quarta-feira, novembro 17, 2010

ESTUDOS SOBRE AS DOUTRINAS DA GRAÇA DE DEUS

O Chamado do Evangelho e o Chamado Eficaz


Base Bíblica e Explicação

    Quando Paulo considera a maneira pela qual Deus traz salvação até nossa vida, ele diz: “Aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.30). Aqui Paulo indica a ordem exata na qual as bênçãos da salvação chegam até nós.


O Chamado Eficaz

    Quando Paulo diz “Aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou a esses também justificou” (Rm 8.30), indica que o chamado é um ato de Deus. De fato, é especificamente um ato de Deus Pai, porque ele é o único que predestina as pessoas “para serem conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8.29). Quando Deus chama as pessoas dessa maneira poderosa, ele as chama “das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pe 2.9); ele as chama “à comunhão de seu Filho” (I Co 1.9; cf. At 2.39) e “para o seu reino e glória” (I Ts 2.12; cf. I Pe 5.10, II Pe 1.3). As pessoas são chamadas por Deus “para ser de Jesus Cristo” (Rm 1.6). Elas são chamadas para “ser santos” (Rm 1.7; I Co 1.2) e chegam ao reino de paz (I Co 7.15; Cl 3.15), liberdade (Gl 5.13), esperança (Ef 1.18; 4.4), santificação (I Ts 4.7), tolerância paciente no sofrimento (I Pe 2.20,21; 3.9) e vida eterna (I Tm 6.12).

    Esse chamado não é meramente humano, é, antes, um tipo de “convocação” feita pelo Rei do universo e tem tanto poder que induz à resposta que exige do coração das pessoas. É um ato de Deus que garante uma resposta. Esse chamado tem o poder de nos tirar do reino das trevas e nos elevar para o Reino dos Céus, para termos plena comunhão com Deus: “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (I Co 1.9).

    Essa poderosa ação de Deus é freqüentemente referida como chamado eficaz para distingui-la do convite geral do evangelho que é para todas as pessoas,das quais algumas o rejeitam. O chamado eficaz é um ato de Deus Pai, falando através da proclamação humana do evangelho, pelo qual ele convoca as pessoas para si mesmo de tal modo que elas respondem com fé salvífica. Como já vimos em estudo anterior, a nossa escolha em favor de Cristo é real e genuína, pois tem como origem próprio Deus que é fundamento de toda a verdade. Esta escolha é causada pela sua graça em ter-nos predestinados “antes da fundação do mundo” (Ef 1.4).

    Um exemplo do chamado do evangelho operando eficazmente é visto na primeira visita de Paulo a Filipos. Quando Lídia ouvia a mensagem do evangelho o “E uma certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia” (Atos 16:14).

    Distinto do chamado eficaz, que é um ato inteiramente de Deus, podemos falar sobre o chamado do evangelho que vem através do discurso humano. Esse chamado do evangelho é oferecido a todas as pessoas, mesmo a quem não o aceita. Às vezes esse chamado do evangelho é referido como  chamado externo ou chamado geral. O chamado do evangelho é geral, externo e amiúde rejeitado, enquanto o chamado eficaz é particular, interno e sempre eficaz. Entretanto, isso não deve diminuir a importância do chamado do evangelho – expediente que Deus escolheu, através do qual o chamado eficaz virá. Sem o chamado do evangelho, ninguém poderia responder e ser salvo. “Como crerão naquele de quem nada ouviram?” (Rm 10.14).


Os Elementos do Chamado do Evangelho

    Na pregação do evangelho, três elementos importantes devem ser incluídos.

1. Explicação de fatos concernentes à salvação. É o entendimento de porque precisamos de Cristo e como ele satisfaz nossa necessidade de salvação. Essa explicação deve conter os seguintes aspectos.

1.    Todas as pessoas pecaram (Rm 3.23).
2.    A pena pelos nossos pecados é a morte (Rm 6.23)
3.    Jesus Cristo morreu para pagar a pena pelos nossos pecados (Rm 5.8)
Crer nesses fatos não é o suficiente, deve-se haver também um convite para uma resposta pessoal da parte do indivíduo, que se arrependerá de seus pecados e confiará pessoalmente em Cristo (no chamado eficaz).

2. Convite para aceitar Cristo pessoalmente com arrependimento e fé. Quando o Novo Testamento fala sobre pessoas recebendo salvação, fala em termos de uma resposta pessoal a um convite da parte do próprio Cristo. Esse convite é expresso com grande beleza pelas palavras de Jesus:

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30).

    Esse convite é pessoal e genuíno e espera uma resposta pessoal de cada um que o recebe, com base no propósito salvífico de Deus de antes da fundação do mundo. Qualquer pessoa que ouve o chamado do evangelho e o atende ouviu, portanto, o chamado eficaz. Isso provoca em sua vida a salvação e desencadeia um processo que envolve fé e arrependimento, por meio do Espírito Santo de Deus. Assim, como aprendemos com Cristo em seu conhecido Sermão do Monte, verificamos que somos completamente incapazes e dependentes de Deus “humildes (pobres) de espírito”, choramos a perda de nossa inocência e reconhecemos nossas falhas diante do Senhor.
 
    O que se promete aos que vão a Cristo?

3. Uma promessa de perdão e vida eterna. A principal promessa na mensagem do evangelho é o perdão dos pecados e a vida eterna com Deus. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). Pedro ao pregar o evangelho diz: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados” (At 3.19; cf. 2.38). Jesus garante ao que o atende que este jamais se perderá novamente: “E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37).

terça-feira, novembro 09, 2010

ESTUDOS SOBRE AS DOUTRINAS DA GRAÇA DE DEUS

Regeneração

    Podemos definir regeneração da seguinte maneira: Regeneração é um ato secreto de Deus pelo qual ele nos concede nova vida espiritual. Isso é às vezes chamado “nascer de novo” (na linguagem de João 3.3-8).


A regeneração é uma obra exclusivamente de Deus
    Na obra da regeneração não desempenhamos papel algum. Ao contrário, é uma obra exclusivamente de Deus. Vemos isso, por exemplo, quando João fala a respeito daqueles a quem Cristo deu poder de se tornarem filhos de Deus – eles “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.13). Aqui João especifica que os filhos de Deus são os que “nasceram [...] de Deus” e que nossa vontade humana (“a vontade do homem) não realiza esse tipo de nascimento.

    O fato de que somos passivos na regeneração fica evidente quando as Escrituras referem-se a ela como “nascer” ou “nascer de novo” (Tg 1.18; I Pe 1.3; Jo 3.3-8). Não escolhemos nos tornar fisicamente vivos e também não escolhemos nascer – é algo que nos aconteceu; semelhantemente, essas analogias nas Escrituras dão a entender que somos inteiramente passivos na regeneração. Esse ato soberano de Deus foi profetizado em Ez 36.26-27). Outros textos confirmam que a regeneração é um ato exclusivo de Deus: Jo 3.8; At 16.14; Ef 2.5; Cl 2.13; Tg 1.17-18; I Pe 1.3; 23,25, etc.

    As Escrituras indicam que a regeneração deve vir antes que possamos responder ao chamado eficaz com fé salvífica. Portanto podemos dizer que a regeneração vem antes do resultado do chamado eficaz (nossa fé). Duas passagens sugerem que Deus nos regenera ao mesmo tempo em que nos faz o chamado eficaz: Pedro diz: “Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. [...] Esta é a palavra que vos foi evangelizada” (I Pe 1.23,25). E também Tiago diz: “Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade” (Tg 1.18). Portanto, Deus penetra no nosso coração para produzir uma reposta absolutamente certa de nossa parte – ainda que respondamos voluntariamente.


A natureza exata da regeneração é um mistério para nós

    O que ocorre na regeneração de forma exata é um mistério para nós. Sabemos que de algum modo nós que estivemos espiritualmente mortos (Ef 2.1), fomos vivificados por Deus e num sentido muito verdadeiro “nascemos de novo” (Jo 3.3; Ef 2.5; Cl 2.13). Mas não entendemos como isso ocorre ou o que exatamente Deus faz para nos dar essa nova vida espiritual. Jesus diz: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (Jo 3.8).

    As Escrituras vêem a regeneração como algo que nos afeta como pessoas integrais, não se trata ape-nas do nosso espírito estar morto antes – nós estávamos mortos para Deus em nossos delitos e pecados (Ef 2.1). E não é correto dizer que a única coisa que ocorre na regeneração é que nosso espírito é vivificado, por-que cada parte de nós é afetada pela regeneração (cf. II Co 5.17).


Nesse sentido de regeneração, ela vem antes da fé salvífica

    Usando os versículos citados acima, definimos a regeneração como o ato de Deus de despertar a vida espiritual dentro de nós, trazendo-nos da morte espiritual para a vida espiritual. Sobre essa definição, é natural entender que a regeneração vem antes da fé salvífica. De fato, é essa obra de Deus que nos dá capacidade espiritual para responder a Deus com fé.

    Jesus afirma: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3.5). Entramos no reino de Deus quando nos tornamos cristãos pela conversão. Mas Jesus diz que temos de nascer “do Espírito” antes que possamos fazer isso. Nossa incapacidade de ir a Cristo por nós mesmos, sem uma obra inicial de Deus dentro de nós, é também enfatizada quando Jesus diz: “Ninguém poderá vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer” (Jo 6.44), e “Ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedi-do” (Jo 6.65). Essa ato íntimo de regeneração é descrito com grande beleza quando Lucas diz a respeito de Lídia: “O Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia” (At 16.14). O contraste disso está em I Co 2.4 e Rm 3.11.

A regeneração genuína deve produzir resultados na vida

Os regenerados:

1.    Crêem em Jesus (I Jo 5.1);
2.    Não vivem dominados pelo pecado (I Jo 3.9)
3.    Praticam a justiça (I Jo 2.29);
4.    Conhecem a Deus (I Jo 4.7);
5.    Obedecem a Deus sem dificuldades e vencem o mundo (I Jo 5.3,4);
6.    São protegidos por Deus e nada pode atingi-los sem sua permissão (I Jo 4.4; 5.18); e
7.    Dão bons frutos que permanecem (Gl 5.22,23 – Contrário a esses frutos legítimos estão os falos cris-tãos, cujos frutos não permanecem e cairão em desgraça, Mt 7.22,23).