quarta-feira, julho 29, 2009

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO PROMOVE MISSÕES

Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos” (Mt 22.32).

Quem pode imaginar alguém deixando a comodidade de seu lar, os seus rendimentos, e sua parentela para ir ao encontro do desconhecido na esperança de que alguns possam ouvir sua mensagem? Será que em condições normais alguém enfrentaria situações como a possibilidade de morte tanto do missionário quanto de toda sua família; de um choque cultural tremendo e nada fácil de superar; de um ambiente estranho que também deve provocar traumas, além da grande saudade de parentes, amigos, etc. Nada comum, digo de mim mesmo, poderia me convencer de abraçar uma empreitada dessas de peito aberto, sabendo de todas as coisas que estariam em risco. Mas, com base na história e na experiência que vivemos, a certeza na ressurreição de Cristo deve ser suficientemente capaz de retirar qualquer homem de sua acomodação para enfrentamentos inimagináveis. O missionário, nesse caso, não seria somente aquele indivíduo que deixaria seu país, p. ex., mas, todo aquele que se propõe a “ir e pregar o Evangelho”, inclusive em seu próprio bairro ou condomínio.


O primeiro enfrentamento que vejo na figura do cristão missionário, é o de inconformidade com o mundo e um desejo incontrolável de mudá-lo com a mensagem transformadora do Evangelho. Somente a Boa-Nova pode impedir a degenerescência de nossa sociedade, afinal, somos chamados por Cristo de “sal da terra” (Mt 5.13) porque o mesmo tem propriedades conservativas, que não permitem a degradação dos alimentos. Não é caso de “pegarmos em armas” para convencer todos os indivíduos contrários ao nosso pensamento de agregarem-se à nossa denominação, mas, de apresentarmos uma situação de novas possibilidades escatológicas, de um mundo novo e de uma nova dimensão das relações entre as pessoas, de uma satisfação gratuita e plena em Jesus Cristo.


Os profetas são excelentes exemplos de pessoas que desejavam o benefício de todos, apesar do pesado teor de suas denúncias, não eram expressas por ódio ou desejo de vingança, mas, para que houvesse arrependimento e conversão da parte daqueles que agiam mal diante do Senhor. Caso isso acontecesse, toda a nação se privilegiaria com as maravilhosas bênçãos do Pai. Nesse caso, não podemos nos esquecer da exortação do apóstolo Paulo: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).


O segundo enfrentamento que vejo na figura do cristão missionário é o de ser um pacificador e conciliador nesse mundo materialista e violento em que vivemos hoje. Nos dois maiores mandamentos que Cristo enuncia aos fariseus, encontramos o que penso ser o que dá sentido a toda obra de Salvação: o amor; primeiro a Deus, depois ao próximo. Fico imaginando Jesus agindo como nós: “Se vocês querem apedrejar a adúltera, problema de vocês. Não me envolvam em suas questões”. Mas, graças a Deus, diferentemente disso, Jesus demonstrou fortemente seu amor ao morrer por nós “quando ainda éramos pecadores” (Rm 5.8). Tal exemplo deveria nos incentivar a pregarmos o Evangelho sem fazermos acepção de pessoas, sem julgarmos quem pode ou não ser transformado – como se isso dependesse de nós –, num ato de reconhecimento da nossa própria falta de mérito para tal coisa.


Somente após a ressurreição de Cristo podemos sonhar com a realidade do emocionado apelo do apóstolo Paulo aos efésios: “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, 2 com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, 3 procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz: 4 há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; 5 um só Senhor, uma só fé, um só batismo; 6 um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos. 7 Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo” (Ef 4.1-7). Quão bom e quão suave seria o mundo se todos conhecessem o “bom motivo” de vivermos em união!


O terceiro enfrentamento para o cristão missionário é a de apresentar uma mensagem integral, não dualista, muito bem expressa por Moltmann. Não de uma escatologia escapista, que deseja viver todas as “maravilhas” de Deus enquanto que os ímpios, os desobedientes, sejam lançados no lago de fogo e enxofre, mas, de um desejo de já viver o que já foi promovido pela ressurreição de Cristo. Como disse o historiador eclesiástico González: “[Deve-se] recuperar a centralidade da escatologia, mostrando que ela inclui tanto aquilo pelo que a igreja espera quanto a própria esperança pela qual ela vive”. Assim, a fé cristã vive da ressurreição de Cristo e se estende em direção às promessas do retorno universal e glorioso do Rei dos reis. Nesse aspecto, enfim, nós não somos só intérpretes do futuro, mas já somos os colaboradores do futuro, cuja força, tanto na esperança como na realização, é Cristo e sua ressurreição. Por isso torna-se possível caminharmos todos em direção ao Reino de Deus.


O quarto enfrentamento para o cristão missionário deve ser o de viver e ensinar uma missão comprometida e comprometedora. Sendo capaz de vencer o desafio de viver de tal maneira, em santidade e justiça, que nossa própria existência empurre a história para sua meta. Vivendo um cristianismo prático que preserve a vida, e tudo que lhe é necessário; que preserve a paz entre os indivíduos, numa comunhão universal; que seja verdadeiramente libertador e não opressor, como vemos na institucionalização da fé; onde todos conheçam e exerçam seus papéis em benefício da coletividade e não somente de si mesmo.


Finalmente, o quinto enfrentamento para o cristão missionário deve ser o de inspirar uma missão em esperança, prazerosa, amorosa e vigilante. Tal batalha pode configurar-se a maior dentre as demais, manter firme a esperança nos demais pelo testemunho de uma firme convicção no poder transformador do Evangelho, possibilitado pela ressurreição de Cristo. Não com um discurso ameaçador e amedrontador, mas, de esperança, amor e comunhão.


Lembro-me de uma aula no seminário, quando o professor explicava sobre “como conseguir que sua esposa seja submissa”. A receita era bem simples: “quanto mais a amo, mais ela retribui esse amor, mais ela deseja estar ao meu lado e caminhar comigo”. Se formos competentes em nos lembrar o que levou Cristo a morrer por nós, mesmo que sendo capaz de ressuscitar depois, podemos estar certos da eficácia da mensagem do Evangelho à todos aqueles que estão “cansados e sobrecarregados” pelas ilusões do mundo. Por isso, a mensagem pregada pela Igreja deve ser, como afirmamos no quarto desafio do cristão missionário, comprometida e comprometedora, pois, como afirma Sancho Pança: “muito bem prega quem vive”!

quinta-feira, julho 23, 2009

Exemplar mais antigo da Bíblia é colocado na internet

'Codex Sinaiticus' foi escrito em grego no século 4
(Foto: Biblioteca Britânica/Divulgação)


Cerca de 800 páginas do exemplar mais antigo da Bíblia foram restauradas e estão disponíveis para consulta na internet.

Os visitantes poderão ver imagens de mais de metade do manuscrito Codex Sinaiticus, escrito em grego em folhas de pergaminho no século 4.

O projeto envolveu especialistas da Grã-Bretanha, Alemanha, Egito e Rússia, e, segundo eles, apresenta muitas possibilidades de pesquisa no futuro.

"O Codex Sinaiticus é um dos maiores tesouros escritos do mundo", afirmou Scot McKendrick, diretor de manuscritos ocidentais da Biblioteca Britânica, em Londres.

Ar do deserto

"Este manuscrito de 1,6 mil anos é uma janela para se entender o desenvolvimento do início do Cristianismo, e se trata de uma evidência em primeira mão de como o texto da Bíblia foi transmitido de geração a geração", disse McKendrick.

"A disponibilidade do manuscrito virtual para estudiosos de todo o mundo cria oportunidades para trabalhos de pesquisa conjuntos que não seriam possíveis até o momento."

Segundo o especialista, a versão original do Codex Sinaiticus continha cerca de 1.460 páginas - cada uma medindo 40 cm por 35 cm.

Por 1,5 mil anos, o manuscrito ficou preservado em um mosteiro na Península do Sinai, no Egito. Em 1844, ele foi encontrado e dividido entre Egito, Rússia, Alemanha e Grã-Bretanha.

Acredita-se que o documento resistiu ao tempo porque o ar do deserto é ideal para a conservação do pergaminho, e porque o mosteiro permaneceu intocado por todos esses anos.

Para marcar o lançamento do site www.codexsinaiticus.org, a Biblioteca Britânica está realizando uma exposição em sua sede, em Londres, que incluiu vários artefatos históricos ligados ao manuscrito.

quarta-feira, julho 22, 2009

CRISTO NOSSA RESSURREIÇÃO, NOSSA ESPERANÇA!

“20 Mas, agora, Cristo ressuscitou dos mortos e foi feito as primícias dos que dormem [...]. 58 Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor” (I Co 15.20,58).

A ressurreição de Cristo é o fato fundante e, ao mesmo tempo, consumador da fé e da esperança cristã. Por ser as “primícias dos que dormem” desde “antes da fundação do mundo” (Ap 13.8), o Cristo ressurreto antecipou a vitória sobre a morte de todos aqueles que crêem em seu nome. Tal fato é a âncora firme de nossa esperança, significando que a esperança cristã tem uma sólida base histórica. Por isso, Paulo ensina confiadamente que a esperança cristã não traz confusão (Rm 5.5), uma vez que, em Cristo, Deus cumpre a promessa de redenção de seu povo, fortificando a fé de seus filhos sobre uma realidade não só prometida, mas, concretizada.


A esperança cristã, portanto, é essencial à fé. Pois, só pode esperar quem crê e só se pode crer em algo que se possa esperar. Se Cristo não tivesse ressuscitado, não haveria motivo para a esperança e nem para a existência da fé cristã, como afirma o apóstolo Paulo:


“12 Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? 13 E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. 14 E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (I Co 15.12-14).


Mas, como Cristo ressuscitou nossa esperança não é vã e a morte não pode condenar nossa fé. Ao contrário, nossa fé aniquila a morte e esta se torna o berço de nossa ressurreição eterna. A destinação do homem e do universo para um fim infeliz e irremediável deixa de ser uma realidade em Cristo, e pode suprir o homem de um novo sentido para sua vida. Em vez de olhar para o futuro como a consumação de sua história como ser, o homem pode expectar o ressurgimento de uma nova vida, de um novo céu e uma nova terra; pode olhar e mover-se para a frente, revolucionando e transformando o presente”. Pode, com o mesmo entusiasmo do apóstolo Paulo, afirmar:


“Tragada foi a morte na vitória. 55 Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?” (I Co 15.54b.55).


Cristo ressuscitou e com ele também ressuscitaremos. Então, conforme Juan B. Stam, depois da ressurreição de Cristo, impõe-se para os cristãos a lógica da esperança contra todo desespero. À luz da ressurreição tudo é possível. Inclusive quando não há base visível e nem calculável para se continuar esperando, a Igreja deve continuar marchando triunfante conforme o exemplo de Abraão:


“O qual, em esperança, creu contra a esperança que seria feito pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência” (Rm 4.18).


Abraão é um exemplo da contracultura cristã, alguém que foi uma verdadeira testemunha da possibilidade de paz em meio às aflições desse mundo, crendo, decididamente, nas promessas de Deus que ainda nem haviam se cumprido. Não podemos dizer que nada mais lhe restava, todos sabemos que Abraão era um homem de muitas posses e que isso poderia lhe possibilitar construir seu futuro, entretanto, na insegurança do nomadismo em que ele vivia, toda sua capacidade material poderia ser extinta em um único encontro com algum clã mais poderoso. Apesar disso, ele seguiu seu caminho cheio de fé e impulsionado por sua esperança nas promessas divinas, para compor magnificamente grande parte do conteúdo das Sagradas Escrituras, como exemplo de fidelidade.


É certo que apesar desta garantia em Cristo, nem todos são tão capazes quanto Abraão, muitos têm dificuldade de aplicar tal fato à vida cristã, à prática, e às vezes realmente acontecem coisas que nos levam a uma condição de profunda tristeza. Principalmente quando, pela gravidade da situação, a esperança é afastada de nossos corações. Foi assim para os discípulos de Jesus quando o viram ser morto na cruz, esconderam-se após o seu sepultamento e tiveram muito medo (Jo 20.19). Afinal, como pensavam outros discípulos que iam em direção a Emaús: “E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas, agora, com tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram” (Lu 24.21); a esperança de todos havia se esvaecido quando viram Jesus ser crucificado sem fazer nada para livrar-se das mãos de seus algozes. Tal atitude trouxe uma terrível sensação de desesperança aos discípulos de Cristo, tanto que aqueles que sempre andaram a seu lado esconderam-se após a crucificação, estavam com muito medo (Jo 20.19). Somente a ressurreição de Cristo poderia ter mudado a disposição interior daqueles homens, dando-lhes, por meio do Consolador, a capacidade de testemunharem a obra de Jesus Cristo por todo o mundo.


É interessante que em nosso meio, há quem prefira acreditar que não há possibilidade de sofrimento, enfermidade e dificuldades financeiras, para os que creêm em Deus, “dono do ouro e da prata, o médico de Gileade, etc”, entretanto, a vida nos ensina que ninguém está livre das mazelas deste mundo e que tal crença é absurda. O próprio Senhor afirmou isso categoricamente: “no mundo tereis aflições” (Jo 16.33). Jesus sabia que sua ausência provocaria grande tristeza no coração de seus discípulos, mesmo sendo consolados pelo Espírito Santo a presença física de Jesus lhes faria grande falta. Assim como quando um cristão perde um ente querido, é este amparado pelo Espírito de Deus e pela esperança de um reencontro num porvir glorioso, mas, a saudade que lhe aflige a alma ainda provoca muitas lágrimas. E certamente a separação pela morte parece ser a mais triste das experiências humanas. E o que Jesus ensina é que de fato muitas tristezas ainda estão por vir, entretanto, nenhuma delas será permanente ou nos causará um dano tão grave que não possa ser superado na nova ordem que Ele preparou para seus servos fiéis. Naquele dia “deles fugirá a tristeza e o gemido” (Is 35.10).


Assim como Cristo converteu água em vinho nas bodas de Caná, também converterá nossa tristeza em alegria quando nossa expectativa de total restauração se cumprir. Nesse momento “Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21.4). Com essas palavras devemos manter aquecida em nossos corações a esperança de uma redenção que já se cumpriu em sua ressurreição.


É válido afirmar que não será por isso que deixaremos de lutar nossas batalhas, carregando a cada dia nossa cruz. Ao contrário, por sabermos que o futuro é de vitória sobre a morte, devemos fazer do presente uma oportunidade de testemunhar tal esperança, pois, existem aqueles que estão “cansados e oprimidos” por terem depositado todas as suas forças em buscas de ideais utópicos e, desiludindo-se com o fracasso, não tem mais esperança alguma.


Enfim, a ressurreição de Cristo não é só uma mensagem de esperança para a Igreja, mas, uma mensagem de esperança para ser compartilhada com a humanidade decaída e destituída de um objeto de alegre expectação. Se para estes a morte é o fim, deve-se anunciar-lhes a ressurreição de Cristo como “fonte de água viva” para uma nova realidade, em uma nova dimensão, num futuro repleto de possibilidades.

sábado, julho 18, 2009

Citação

"A exegese crítica, inclusive a aparentemente mais leiga, não deixou de ser bastante influenciada pela distinção protestante entre Palavra de Deus, contida na Escritura, e palavras meramente humanas, contidas nas interpretações posteriores e nos dogmas da Igreja cristã, ou segundo o caso, da Sinagoga judia. Sob este ponto de vista a exegese crítica concede maior importância aos oráculos atribuídos ao profeta Isaías do que aos outros acrescentados no livro que leva o seu nome. Ele deve deixar, no entanto, de dar primazia ao antes ou ao depois dos textos bíblicos, sobretudo se os critérios forem alheios aos textos e à tradição bíblica. Kugel descreve, com toda clareza, o propósito que deve orientar o estudo da Bíblia, e este pretende ser seguido neste livro: 'descrever o desenvolvimento da Bíblia desde suas origens, no mundo vital intelectual do antigo Israel, até sua institucionalização na vida e no mundo intelectual do início do judaísmo e do cristianismo' (Kugel, 163). "

BARRERA, Julio Trebolle, A Biblia Judaica e a Biblia Cristã Introdução Á Historia da Biblia, Editora Vozes, São Paulo, 2a Edição, 2000.