terça-feira, dezembro 22, 2009

Árvore de Natal já foi pomo da discórdia entre católicos e protestantes

Durante séculos, o símbolo natalino foi distintivo entre católicos e protestantes, estes inicialmente depreciados como adeptos da "religião da árvore de Natal". No século 19, o costume se tornou transconfes-
sional.


A aconchegante cena faz bater mais forte os corações dos protestantes da Alemanha: Martinho Lutero sentado, ao lado de sua família, numa confortável sala, em torno de uma pequena árvore de Natal decorada.

Lutero e família na noite de Natal de 1536, em Wittenberg: assim o artista Carl August Schwerdgeburth, de Weimar, intitulou sua gravura. Porém o quadro que o tornou conhecido no século 19 não passa de uma mentira.


Difundida pela guerra

"Lutero jamais se sentou sob a árvore de Natal", sentencia o etnólogo Alois Döring, de Bonn. Pelo contrário: o reformador alemão nem mesmo conhecia esse símbolo, pois os primeiros registros de uma festa com um pinheiro decorado remetem ao final do século 16, quando a autoridade de uma localidade da Alsácia mandou montar a primeira árvore de Natal.

A coisa só virou moda na Alemanha pelos idos de 1800, quando as famílias protestantes passaram a adotar o pinheiro como decoração caseira para o Natal. E mais tarde declararam tratar-se de uma boa e velha tradição luterana.

"Os católicos zombavam do culto a Lutero da mesma forma que do costume da árvore de Natal", explica Döring. Aliás, uma das expressões sarcásticas com que denominavam o protestantismo era "a religião da árvore de Natal".

Mas isso não durou muito tempo, pois já no fim do século 19 o pinheirinho também conquistaria as salas de estar católicas. Decisiva para sua difusão foi a guerra franco-prussiana de 1870, conta o etnólogo. "Na época, por ordem das lideranças militares [alemãs], árvores de Natal foram dispostas nas trincheiras, como sinal dos laços com a pátria."

Ao que tudo indica, a ideia espalhou-se rapidamente pelo mundo. Pois a primeira árvore pública, exposta numa praça e enfeitada com guirlandas, foi registrada no Natal de 1910, não na Alemanha, mas sim em Nova York. Com a propagação do símbolo para além dos limites das confissões, desapareceu gradualmente a lenda de Martinho Lutero.


Lenda do paganismo

Em compensação, até hoje circula o boato que esse costume da árvore decorada proviria de culto pagão. Ledo engano. Segundo pesquisas mais recentes, a árvore natalina viria dos autos medievais sobre o Paraíso, onde, no dia 24 de dezembro, se erguia a "Árvore do Bem e do Mal", sob a qual era encenada a queda de Adão e Eva.

"Do lado que simbolizava a Redenção, a árvore era enfeitada com maçãs e outras guloseimas; do outro lado, pecaminoso, não havia nada", descreve o estudioso de Bonn.

Após os cultos religiosos, os fiéis podiam se servir da decoração. E nesse caso, assim como nos "autos do Presépio" e nas festas a São Nicolau, muitos católicos deixavam de lado a moral e os bons costumes.

A Martinho Lutero desagradava o apelo sensorial da adoração dos santos na Igreja Católica. Ele queria recolocar Jesus Cristo no centro das festividades, e por isso inventou a figura do "Cristo Sagrado", em concorrência a São Nicolau. E durante muitos anos, nas regiões protestantes da Alemanha, era o "Cristo Sagrado" a presentear as crianças, acompanhado por anjos.


Avanço do ecumenismo

No decorrer dos séculos, a figura se transformou no angélico "Menino Jesus", lembra Döring. Mas como essa imagem talvez fosse infantil demais, criou-se no século 19 o Papai Noel, uma espécie de "Nicolau remodelado". Hoje não é mais possível dizer se essa figura nasceu da fantasia dos protestantes ou dos católicos.

"Muitos de nossos costumes natalinos são, hoje, transconfessionais", afirma Alois Döring. Justamente na época do Advento e do Natal, o etnólogo tem observado, nos últimos anos, numerosas ações ecumênicas; católicos e protestantes promovem concertos e festas em conjunto.
"As Igrejas reconheceram que têm que fazer algo, se é para o Natal ser mais que consumo, vinho quente e luzes decorativas", diz Döring. "E isso funciona melhor quando se trabalha junto, e não em concorrência."

Autor: Sabine Damaschke (av)
Revisão: Simone Lopes

Fonte: Deutsche Welle

segunda-feira, dezembro 21, 2009

ARQUEÓLOGOS ISRAELENSES DESCOBREM CASA DA ERA DE JESUS

Mais uma tradução ruim, porém, informativa.
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Fonte: Haaretz Service

Arqueólogos israelenses disseram ter descoberto vestígios da primeira habitação na cidade de Nazaré, que pode ser datada como sendo da época de Jesus.

A descoberta lança uma nova luz sobre o que poderia ter sido Nazaré no tempo de Jesus, informaram os arqueólogos, indicando que provavelmente era uma pequena aldeia com cerca de 50 casas habitadas por judeus pobres.

Os restos de uma parede, um esconderijo e uma cisterna foram encontrados depois de construtores desenterrarem um pátio de um antigo convento na cidade do norte de Israel, disse o arqueólogo Yardenna Alexandre da Autoridade de Antiguidades de Israel.

Alexandre disse aos jornalistas que os arqueólogos também encontraram barro e as embarcações de giz usados por no tempo dos judeus galileus - uma indicação na casa pertencia a uma família de judeus simples.

Vista da Igreja da Anunciação adiante.


"É como se Jesus e seus amigos de infância tivessem conhecido a casa", disse Alexandre. "A partir da evidência de escritas disponíveis, sabemos que no primeiro século AD Nazaré era uma pequena aldeia judaica localizada em um vale", disse Alexandre, acrescentando que "até agora poucas sepulturas da era de Jesus foram reveladas, mas nunca haviam sido desenterrados os restos de residências contemporâneas".

Um buraco feito no rocha também foi encontrado, a entrada para o lugar foi provavelmente escondida, lá encontraram trabalho em barro contemporâneo. Alexandre estima que o poço foi feito por parte dos judeus que se "preparavam antes da Grande Rebelião contra os romanos, em 67 CE”.

EU PROMETO QUE ESSE ANO EU VOU...

“Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa” (Tg 4.13,14).

Louvo a Deus por ter vencido mais um ano, por ter suportado todas as aflições que me sobrevieram e, ter, graças a seu amor e misericórdia, mantido minha fé e esperança firmadas em sua palavra. Nada mais, além da gratidão, preenche meu coração em mais um fim de ano.

Para muitos, porém, não há como terminar um ano e iniciar outro sem fazer suas promessas. Aquelas famosas que nunca cumprimos: “este ano vou emagrecer”, “vou me casar”, “vou passar de ano sem ficar de recuperação”, etc. As pessoas entopem suas mentes com velhos projetos que nunca se tornaram realidade, são as mesmas promessas de todos os anos que se repetem com um sonoro: “desta vez vai”!

Irmãos, o que é o amanhã? Tiago nos ensina que não sabemos o que ocorrerá no futuro, então porque nos afadigarmos com promessas que há anos não conseguimos cumprir? Não digo que você não deva estabelecer objetivos e, “se o Senhor quiser” (v. 15), alcança-los por meio de muito esforço e trabalho. Mas, falo a respeito de seguir uma inércia cultural de andar ansioso pelo amanhã em busca de coisas que baseiam-se em modismos mundanos.

Nós, que somos de Deus, devemos agir de forma diferenciada. Nossos planos devem ser iniciados com a anuência do Pai, com oração e jejum. Tudo o que surgir em nossa mente deve passar pela aprovação da Palavra, por exemplo, verifique se as coisas que você tem planejado se enquadram na instrução de Paulo, em Fp 4.8. Coisas que você viu na televisão, na propaganda, que o pessoal do serviço todo vai fazer (ou da escola), geralmente são reprovadas ao serem analisadas a luz de Fp 4.8, então, não deixe o rio da impiedade levar seu barquinho. Seja cauteloso em seus novos projetos, sempre construa sua casa sobre a rocha!

A Bíblia, que é nosso manual de fé e prática nos adverte a respeito dessas promessas: “Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de Deus; nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei; nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno” (Mt 5.34-37).

Após seu momento de jejum e oração, da análise de seus projetos sob a luz das Sagradas Escrituras, sua palavra deverá ser só uma, ou sim ou não, nada mais que isso. Desta maneira seu testemunho não será arranhado e o nome do Senhor não será maculado por vaidades e modismos vazios. Deus te abençoe neste novo ano que começa!

MAIS UM NATAL DO SÃO NICOLAU!

Não! Não deixei de crer em Jesus nem de segui-lo apesar da afirmação acima. Diferentemente disso, manifesto somente minha reprovação a inabalável construção capitalista sobre o maior evento da humanidade: o nascimento de Jesus Cristo. O tal tem sido praticamente esquecido, a não ser nas igrejas, pela maioria das pessoas do mundo, que preferem construir uma imagem de esperança, em um único período do ano, sobre a figura de um “santo” cuja história é obscura e marcada por adaptações mercadológicas, e que não oferece nada além de um “presente”, algo como uma iniciação ao mundo materialista e utilitarista de hoje que deixa de lado o sentido eucarístico (de comunhão) da festa. O famoso e badalado papai-noel, o “bom velhinho”, nada a tem a oferecer senão um grande sentimento de frustração para aqueles que não podem ser contemplados nessa data, por viverem na linha da miséria em várias partes do mundo. Além das dores e angústias causadas pela situação em si, também tem de suportar o sentimento de terem sido proteladas por não serem “bons meninos”, por não serem dignas.

Neste natal diga “NÃO” ao São Nicolau, ele não é nada, não é ninguém, nem é capaz de fazer com que sonhos infantis tornem-se realidade. Neste natal diga: Maranata! Para que Jesus traga conforto e consolo a todos os que choram, para que ele sacie os que estão famintos e os que tem sede de justiça, e que, com o apoio de sua Igreja, glorifique o nome do Pai em obras que vão além de palavras e de “boas intenções” cristãs. Porque, afinal, a Igreja não está isenta de sua culpa de não divulgar e promover ações reais e palpáveis, que suprissem a necessidade dos povos em levantar ídolos para si.

Mas, deixemos de lado pessimismo, pois, quero lhe desejar votos de um excelente natal, onde todos possamos agir mais e falar menos. Onde a pessoa de Cristo seja vista em nossos atos de fraternidade, solidariedade, retidão, integridade e até de cuidados com nosso planeta. Num mundo onde as pessoas sejam mais valorizadas que as coisas, e que sejam dignas de valor pelo que são e não pelo que tem. Enfim, que possamos amar e ser amados, conquistar com esforço, cair e levantar, sem jamais perder a esperança de que dias melhores virão com Cristo, nosso Senhor e Salvador, aquele que é digno de toda honra, todo louvor e toda a glória, pelos séculos dos séculos! Amém.

terça-feira, dezembro 15, 2009

BREVE ESTUDO SOBRE AS BEM-AVENTURANÇAS DO SERMÃO DO MONTE – MATEUS 5.3-5

PARTE II – AS BEM-AVENTURANÇAS (Continuação)

"3 Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.
4 Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
5 Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra."

Agora vamos examinar detalhadamente as bem-aventuranças. Diversas tentativas de classificação foram experimentadas. Talvez a divisão mais simples seja considerar as quatro primeiras descritivas do relacionamento do cristão com Deus, e as outras quatro, do seu relacionamento e deveres com o próximo.

1. Os humildes de espírito (v.3)

O Velho Testamento fornece os antecedentes necessários para a interpretação dessa bem-aventurança. No princípio, ser “pobre” significava passar necessidades literalmente materiais. Mas, gradualmente, porque os necessitados não tinham outro refúgio a não ser Deus, a “pobreza” recebeu nuances espirituais e passou a ser identificada como uma humilde dependência de Deus. Por isso o salmista intitulou-se “este aflito” que clamou a Deus em sua necessidade, “e o Senhor o ouviu, e o livrou de todas as tribulações”. O “aflito” (homem pobre) no Velho Testamento é aquele que está sofrendo e não tem capacidade de salvar-se por si mesmo e que, por isso, busca a salvação em Deus, reconhecendo que não tem direito à mesma. Esta espécie de pobreza espiritual foi especialmente elogiada em Isaías (Is 41:17,18). São “os aflitos e necessitados”, que “buscam águas, e não as há”, cuja “língua se seca de sede”, aos quais Deus promete abrir “rios nos altos desnudos, fontes no meio dos vales” e tornar “o deserto em açudes de águas, e a terra seca em mananciais”. O “pobre” foi também descrito como o “contrito e abatido de espírito”, para quem Deus olha (embora seja “o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo”), em com quem se deleita em habitar (Is 57:15; 66:1,2). É para esse que o ungido do Senhor proclamaria as boas novas da salvação uma profecia que Jesus conscientemente cumpriu na sinagoga de Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu, para pregar boas-novas aos quebrantados” (Mt 11:5). Mais ainda, os ricos inclinavam-se a transigir com o paganismo que os rodeava; eram os pobres que permaneciam fiéis a Deus. Por isso, a riqueza e o mundanismo, bem como a pobreza e a piedade, andavam juntas.

Assim, ser “humilde (pobre) de espírito” é reconhecer nossa pobreza espiritual ou , falando claramente, a nossa falência espiritual diante de Deus, pois somos pecadores, sob a santa ira de Deus, e nada merecemos além do juízo de Deus. Nada temos a oferecer, nada a reivindicar, nada com que comprar o favor dos céus.

“Nada em minhas mãos eu trago,
Simplesmente à tua cruz me apego;
Nu, espero que me vistas;
Desamparado, aguardo a tua graça;
Mau, à tua fonte corro;
Lava-me, Salvador, ou morro”.


2. Os que choram (v.4)

Que espécie de tristeza é essa que pode produzir a alegria da bênção de Cristo naqueles que a sentem? Está claro no contexto que aqueles que receberam a promessa do consolo não são, em primeiro lugar, os que choram a perda de uma pessoa querida, mas aqueles que choram a perda de sua inocência, de sua justiça, de seu respeito próprio. Cristo não se refere à tristeza do luto, mas à tristeza do arrependimento.

Este é o segundo estágio da bênção espiritual. Uma coisa é ser espiritualmente pobre e reconhece-lo; outra é entristecer-se e chorar por causa disto. Ou, numa linguagem mais teológica, confissão (arrependimento) é uma coisa, contrição (remorso) é outra.

Precisamos, então, notar que a vida cristã, de acordo com Jesus, não é só alegria e risos. Há cristãos que parecem imaginar, especialmente se estão cheios do Espírito, que devem exibir um sorriso perpétuo no rosto e viver continuamente exuberantes e borbulhantes. Que atitude antibíblica! Na versão de Lucas, Jesus acrescentou a esta bem-aventurança uma solene advertência: “Ai de vós os que agora rides!” A verdade é que existem lágrimas cristãs e são poucos os que as vertem.

Jesus chorou pelos pecados de outros, pelas amargas conseqüências que trariam no juízo e na morte, e pela cidade impenitente que não o receberia. Nós também deveríamos chorar mais pela maldade do mundo, como os homens piedosos dos tempos bíblicos. “Torrentes de águas nascem dos meus olhos”, o salmista podia dizer a Deus, “porque os homens não guardam a tua lei” (Sl 119:136). Ezequiel ouviu o povo de Deus descrito como aqueles que “suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio (de Jerusalém) Ez 9:4). E Paulo escreveu sobre os falsos mestres que perturbavam as igrejas do seu tempo: “Pois muitos andam entre nós... e agora vos digo até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo” (Fp 3:18).

Mas não são apenas os pecados dos outros que deveriam nos levar às lágrimas, pois temos os nossos próprios pecados para chorar. Será que Paulo errou ao gemer: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” e quando escreveu à pecadora igreja de Corinto: “Não chegastes a lamentar?” (Rm 7:24; I Co 5:2; cf. II Co 12:21). Não existe suficiente tristeza por causa do pecado entre nós.

Tais pessoas que choram, que lamentam a sua própria maldade , serão consolados pelo único consolo que pode aliviar o seu desespero, isto é, o perdão da graça de Deus. “O maior de todos os consolos é a absolvição enunciada sobre cada pecador contrito que chora”. “Consolação” de acordo com os profetas do Velho Testamento, seria uma das missões do Messias. Ele seria "o Consolador" que curaria "os quebrantados de coração" (Is 61:1; cf. 40:1) Por isso, homens piedosos como Simeão esperavam ansiosos "a consolação de Israel" (Lc 2:25). E Cristo derrama óleo sobre nossas feridas e concede paz às nossas consciências magoadas e marcadas. Mas ainda choramos pela devastação do sofrimento e da morte que o pecado alastra pelo mundo inteiro! Só no estado final de glória o consolo de Cristo será completo, pois só então o pecado não existirá mais e "Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima"


3. Os mansos (v. 5)

O adjetivo grego praüs significa "gentil", "humilde", "atencioso", "cortês" e, portanto, o que exerce autocontrole, sem o qual estas qualidades seriam impossíveis. Embora imediatamente recuemos ante a imagem de nosso Senhor quando intitulado "Jesus, suave e meigo", porque evoca uma figura fraca e efeminada, ele mesmo descreveu-se como "manso (praüs) e humilde de coração"; e Paulo falou de sua "mansidão e benignidade" (Mt 11:29; II Co 10:1; cf. Zc 9:9). Portanto, lingüisticamente falando, podemos parafrasear esta bem-aventurança dizendo: "aqueles que têm um espírito gentil". Mas que espécie de gentileza é esta, para que seus possuidores sejam declarados bem-aventurados?

Parece importante notar que, nas bem-aventuranças, "os mansos" encontram-se entre aqueles que choram por causa do pecado e entre aqueles que têm fome e sede de justiça. A forma particular de mansidão que Cristo exige de seus discípulos está certamente relacionada com esta seqüência. Creio que o Dr. Martin Lloyd-Jones está certo ao enfatizar que essa mansidão denota uma atitude humilde e gentil para com os outros, determinada por uma estimativa correta de si mesmo. Ele destaca que é comparativamente fácil ser honesto consigo mesmo diante de Deus e se reconhecer pecador diante dele. E prossegue: "Mas como é muito mais difícil permitir que as outras pessoas digam uma coisa dessas de mim! Instintivamente eu me ofendo. Todos nós preferimos condenar a nós mesmos do que permitir que outra pessoa ns condene”.

Por exemplo, vamos aplicar este princípio à prática eclesiástica cotidiana. Sinto-me muito feliz ao recitar a confissão de pecados na igreja, chamando-me de “miserável pecador”. Não há problema algum. Nem me incomodo. Mas se alguém vier a mim, depois do culto, e me chamar de miserável pecador, vou querer dar-lhe um soco no nariz! Em outras palavras, não estou preparado para permitir que outras pessoas pensem ou falem de mim aquilo que acabei de reconhecer diante de Deus. Ë uma grande hipocrisia, e sempre será, quando a mansidão estiver ausente.

O Dr. Lloyd-Jones resume isso admiravelmente: “A mansidão é, em essência, a verdadeira visão que temos de nós mesmos, e que se expressa na atitude e na conduta para com os outros... O homem verdadeiramente manso é aquele que fica realmente pasmo ante o fato de Deus e os homens poderem pensar dele tão bem quanto pensam, e de que o tratem tão bem. Isto o torna gentil, humilde, sensível, paciente em todos os seus relacionamentos com os outros.

Essas pessoas mansas herdarão a terra”. Era de se esperar o contrário. Achamos que as pessoas “mansas” nada conseguem porque são ignoradas por todos, ou, então, tratadas com descortesia ou desprezo. São os valentões, os arrogantes, que vencem na luta pela existência; os covardes são derrotados. Até mesmo os filhos de Israel tiveram de lutar por sua herança, embora o Senhor seu Deus lhes desse a terra prometida. Mas a condição pela qual tomamos possa de nossa herança espiritual em Cristo não é a força, mas a mansidão, pois, confirme já vimos, tudo é nosso se somos de Cristo.

Era esta a confiança dos homens de Deus, santos e humildes, no Velho Testamento, quando os perversos pareciam triunfar. Isto jamais foi expresso com mais exatidão do que no Salmo 37, o qual parece que Jesus citou nas bem-aventuranças: “Não te indignes por causa dos malfeitores... os mansos herdarão a terra... Aqueles a quem o Senhor abençoa possuirão a terra... Espera no Senhor, segue o seu caminho, e ele te exaltará para possuíres a terra; presenciarás isso quando os ímpios forem exterminados” (Sl 37:1,11,22,34; cf. Is 57:13; 60:21).

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Cantora Sinead O'Connor exige renúncia de papa Bento 16

DUBLIN (Reuters) - A cantora Sinead O'Connor pediu na sexta-feira que o papa Bento 16 renuncie por causa de um relatório do governo irlandês acusando os líderes da Igreja de acobertarem o abuso sexual de crianças por 30 anos.

O Vaticano divulgou um comunicado na sexta-feira dizendo que o papa se sentiu "traído, envergonhado e ultrajado" por causa do escândalo e iria escrever ao povo irlandês sobre o abuso sexual.

Mas Sinead, que certa vez irritou católicos ao rasgar uma foto de João Paulo 2o ao vivo na televisão, disse em uma carta publicada em um jornal britânico que o papa se manteve em silêncio por tempo demais sobre o abuso sexual infantil.

"Eu exijo que o papa renuncie por seu silêncio desprezível sobre a questão e seus atos de não cooperação com o inquérito", escreveu O'Connor em uma carta ao jornal The Independent, publicada antes de uma reunião entre líderes da igreja irlandesa e o papa no Vaticano.

"Os papas não tiveram problemas em dar suas opiniões quando quisemos pílulas anticoncepcionais ou o divórcio", disse Sinead.

"Não tiveram problema em criticar o Código Da Vinci. Nenhum problema em criticar Naomi Campbell por usar uma cruz adornada com joias. Mas quando se trata dos males feitos por pedófilos vestidos de padres, eles ficam em silêncio. É grotesco, inacreditável, bizarro e inédito. Eles não defendem nada além do mau."

A Igreja da Irlanda, país de maioria católica, foi abalada por dois relatórios este ano sobre abusos sexuais. O Relatório da Comissão Murphy, divulgado em 26 de novembro, revelou que a Igreja havia escondido o abuso sexual "obsessivamente" de 1975 a 2004.

Sinead, cuja canção de 1990 "Nothing Compares 2 U" foi sucesso no mundo todo, provocou polêmica na Irlanda quando um grupo católico dissidente ordenou-a sacerdotisa em uma cerimônia em Lourdes há 10 anos.

(Reportagem de Padraic Halpin)

quinta-feira, dezembro 10, 2009

BREVE ESTUDOS SOBRE AS BEM-AVENTURANÇAS DO SERMÃO DO MONTE – MATEUS 5 .1-12

PARTE I

Quem dentre nós, cristãos, não conhece ou nunca ouviu falar do mais famoso pronunciamento de Jesus, o Sermão do Monte? Um discurso em palavras simples mas com idéias tão profundas, cujas riquezas são inesgotáveis. Certamente, idéias e riquezas também inalcançáveis a pessoas que porventura estejam distantes da graça de nosso Pai.

Vamos enveredar por esta mensagem tão sublime e beber desta fonte que jorra águas vivas, para que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef 4:13).

"1 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; 2 e ele passou a ensiná-los, dizendo:
3 Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.

4 Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.

5 Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.

6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.

7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.

8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.

9 Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.

10 Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.

11 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.

12 Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós".

Antes de fazermos qualquer consideração sobre as bem-aventuranças, precisamos responder à três perguntas: (1) Quem são as pessoas descritas? (2) Quais as qualidades recomendadas a essas pessoas? (3) Quais as bênçãos prometidas?

1. Quem são as pessoas descritas?

As bem-aventuranças descrevem o caráter equilibrado e diversificado do povo cristão. Não existe uma bem-aventurança para cada grupo distinto entre os discípulos de Jesus, ou seja, um grupo dos mansos, outro dos misericordiosos e outro dos que choram, por exemplo. Antes, são as bem-aventuranças oito qualidades do mesmo grupo de pessoas, que ao mesmo tempo, são mansas e misericordiosas, humildes de espírito e limpas de coração, choram e têm fome, são pacificadoras e perseguidas.

Um grupo que exibe esses sinais está longe de ser uma aristocracia espiritual e elitista distante dos demais membros da igreja. Diferente dos dons espirituais que o Espírito Santo distribui de forma variada entre os membros da igreja, as bem-aventuranças são como os frutos do Espírito Santo que são devidos a todos os cristãos, que devem zelosamente buscá-los e vivê-los. As bem-aventuranças descrevem o caráter ideal para cada um dos que tem a Jesus Cristo como Senhor de sua vida.

2. Quais são as qualidades recomendadas a essas pessoas?

Comparando as bem-aventuranças em Mateus e Lucas notamos algumas diferenças. Em Lucas está escrito: “Bem-aventurados vós os pobres”, enquanto que Mateus declara: “Bem-aventurados os humildes (pobres) de espírito”. Em Lucas temos: “Bem-aventurados vós os que agora tendes fome”, e em Mateus: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”.

Com relação a isto, alguns argumentam que a versão de Lucas é a verdadeira; que Jesus estava julgando os pobres e os famintos do ponto de vista social ou sociológico; que ele estava prometendo alimento aos subnutridos e ao proletariado no reino de Deus; e que Mateus espiritualizou o que constituía originalmente uma promessa material.

Essa interpretação é impossível, pois estaríamos dizendo que Jesus estava contradizendo os evangelistas que ele mesmo preparou. Na tentação do deserto da Judéia, Jesus recusou-se a transformar pedras em pão e repudiou a idéia de estabelecer um reino material. Isso aconteceu durante todo o seu ministério. Ao alimentar os cinco mil, com pães e peixes, a multidão quis proclamá-lo rei e Ele imediatamente se retirou sozinho para o monte. Quando Pilatos perguntou se ele era, ou desejava ser, rei dos judeus sua resposta foi: “O meu reino não é deste mundo”. Isto é, tinha uma origem diferente e, portanto, caráter diferente.

Jesus não se negava a alimentar o faminto, nem de socorrer o oprimido, Ele jamais foi indiferente às mazelas que suportamos nessa vida, porém, as bênçãos de seu reino não são primeiramente uma vantagem econômica. Jesus nunca disse que em seu nome teríamos alívio físico imediato, apesar de sabermos que Ele pode fazê-lo se isto estiver dentro de seus planos e propósitos para nós, nem disse que seríamos lançados de imediato ao céu, tampouco ficava afirmando que os famintos e os pobres eram “bem-aventurados”. Na verdade, em algumas circunstâncias, Deus pode usar a pobreza como instrumento de bênção espiritual, exatamente como a riqueza pode ser um impedimento à mesma. Mas isso não transforma a pobreza num ideal cristão, desejado por Jesus.

A igreja não pode fechar os olhos ante a miséria e a fome das massas, mas também não deve crer que pessoas que fazem voto de pobreza e renúncia total a bens materiais mereçam algum louvor.

A pobreza e a fome a que Jesus se refere nas bem-aventuranças são condições espirituais. São os “humildes (pobres) de espírito” e aqueles que “têm fome e sede de justiça” que ele declara bem-aventurados. Assim todas as outras bem-aventuranças referem-se a qualidades espirituais, de pessoas que tem firmada a sua fé e esperança em Deus.

3. Quais são as bênçãos prometidas?

A Bíblia na Linguagem de Hoje em sua tradução afirma no lugar de “Bem-aventurados”,

“Felizes os pobres...”. Isso representa-nos um erro porque a felicidade é um estado muito subjetivo. Nas bem-aventuranças vimos que Jesus está julgando objetivamente os “Bem-aventurados”. Ele não está declarando como se sentirão (“felizes”), mas sim o que Deus pensa delas e o que são por causa disso: são “bem-aventuradas”.

Que bênção é essa? A segunda parte de cada bem-aventurança elucida a questão. Possuem o reino dos céus e herdarão a terra. Os que choram são consolados e os famintos satisfeitos. Recebem a misericórdia, vêem a Deus, são chamados filhos de Deus. Sua recompensa celestial é grande. E todas estas bênçãos estão reunidas. Exatamente como as oito qualidades descrevem cada cristão (pelo menos em ideal), da mesma forma as oito bênçãos são concedidas a cada cristão. É verdade que a bênção específica prometida em cada caso é apropriada à qualidade particularmente mencionada. Ao mesmo tempo, é totalmente impossível herdar o reino dos céus sem herdar a terra, ser consolado sem ser satisfeito ou ver a Deus sem alcançar sua misericórdia e ser chamado seu filho. As oito qualidades juntas constituem as responsabilidades; e as oito bênçãos, os privilégios, a condição de cidadão do reino de Deus. Este é o significado do desfrutar do governo de Deus.

Estas bênçãos são para o presente ou para o futuro? Devemos crer que são tanto para o presente quanto para o futuro. Mesmo que a segunda parte pareça ter uma natureza escatológica (futura) e que a segunda parte da última bem-aventurança também refira-se a uma bênção futura, nos céus, é muito claro par aos cristãos fiéis que o reino de Deus é uma realidade presente que podemos “receber”, “herdar” ou “entrar” agora. Do mesmo modo, podemos alcançar misericórdia e consolo agora, podemos nos tornar filhos de Deus agora e podemos, nesta vida, ter a nossa fome satisfeita e a nossa sede mitigada. Jesus prometeu todas estas bênçãos a seus discípulos aqui e agora. A promessa de que “verão Deus” pode parecer uma referência à “visão beatífica” final, e sem dúvida a inclui. Mas nós já começamos a ver Deus nesta vida, na pessoa do seu Cristo e com a visão espiritual. Já começamos a “herdar a terra” nesta vida, considerando que , se somos de Cristo, todas as coisas já são nossas, “seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as cousas presentes, sejam as futuras” (I Co 3.22,23).

Outro problema que devemos enfrentar é que as bem-aventuranças, aparentemente, ensinam uma doutrina de salvação pelos méritos humanos. Seria isso verdade?

Alguns intérpretes tentam apresentar o Sermão do Monte como nada mais que uma débil forma cristianizada da lei do Velho Testamento e da ética do Judaísmo. Prega a lei, não o evangelho, e oferece justiça pelas obras e não pela fé.

Apesar de tantas especulações, na verdade, a primeira das bem-aventuranças proclama a salvação pela graça e não pelas obras, pois ela promete o reino de Deus aos “humildes de espírito”, isto é, às pessoas que são tão pobres espiritualmente que nada têm a oferecer para mérito seu.

Não pode haver dúvidas de que o Sermão do Monte tem, sobre muitas pessoas, o primeiro efeito já notado. Quando o lêem, ficam desesperadas. Vêem nele um ideal inatingível. Como poderiam desenvolver essa justiça de coração, voltar a outra face, amar os seus inimigos? É impossível! Exatamente! Neste sentido, o Sermão é “Moisíssimo Moisés” (expressão de Lutero); “é Moisés quadruplicado, é Moisés multiplicado ao mais alto grau, porque é uma lei de justiça interior a que nenhum filho de Adão jamais poderia obedecer. Portanto, apenas nos condena e torna indispensável o perdão de Deus, em Cristo. Não poderíamos dizer que esta é uma parte do propósito do Sermão? É verdade que Jesus não o disse explicitamente, embora esteja na primeira bem-aventurança. Mas a implicação está em toda a nova lei, exatamente como no antiga.

O segundo propósito do Sermão é descrito por Lutero: “Cristo nada diz neste Sermão sobre como nos tornamos cristãos, mas apenas sobre as obras e os frutos que ninguém pode produzir se já não for um cristão e não estiver em estado de graça. Todo o sermão pressupõe uma aceitação do evangelho, uma experiência de conversão e de novo nascimento, e a habitação do Espírito Santo. Descreve as pessoas nascidas de novo que os cristãos são (ou deveriam ser). Portanto, as bem-aventuranças apresentam as bênçãos que Deus concede (não como uma recompensa aos méritos, mas como um dom da graça) àqueles nos quais ele está desenvolvendo um caráter assim.

Resumindo estes três pontos introdutórios relacionados com as bem-aventuranças, podemos dizer que as pessoas descritas são de modo geral os discípulos cristãos, pelo menos em ideal; que as qualidades elogiadas são qualidades espirituais; e que as bênçãos prometidas (como dons da graça imerecida) são as bênçãos gloriosamente compreendidas pelo governo de Deus, experimentadas agora e consumadas depois, incluindo a herança de ambos, terra e céu, consolo, satisfação e misericórdia, visão e filiação de Deus.

segunda-feira, dezembro 07, 2009

O NASCIMENTO DE JESUS - Esboço de sermão

I. A Reação e a Situação de Maria ao saber da gravidez- Lc 1.26-38

a. Perturbou-se muito (v.29)
Foi chamada de “agraciada, muito cheia de graça”.

b. Entrou em crise pessoal (v.34)
Ao entender que seu filho não seria de José ficou perplexa, teria de acontecer um milagre. Seu ambiente social a teria como uma mulher adúltera senão acreditassem no milagre.

c. Resignou-se à obediência (v.38)
“Eis-me aqui” - Ela já sabia das dificuldades que enfrentaria.


II. A Reação e a Situação de José - Mt 1.18-24

a. Resolveu deixar Maria secretamente (v.19)
Em casos de infidelidade o divórcio era praticamente obrigatório. Maria poderia ser apedrejada.

b. Obedeceu a Deus atendendo ao anjo (v.20-24)
José deve ter sido motivo de escárnio e vergonha para seu povo: “Concebido pelo Espírito Santo?!”. Isso era inconcebível para o povo daquela época.

c. Aguardou com paciência até o nascimento de Cristo (v.25)
José aguardou que Jesus nascesse para poder desfrutar de sua esposa.


III. O Nascimento de Jesus

a. Foi numa manjedoura e foi enrolado em tiras (Lc 2.7)
Na hospedaria não havia lugar para eles. Talvez tenham sido desprezados. A maioria das manjedouras ficava ao ar livre, talvez Jesus tenha nascido a céu aberto.

b. Foi comemorado por anjos e pastores (Lc 2.8-14)
Os pastores eram uma classe desprezada porque seu trabalho os impedia de observar a lei cerimonial e, como eles se movimentavam por todo o país, era comum serem considerados como ladrões. Não eram considerados dignos de confiança e não eram aceitos como testemunhas nos tribunais.

c. Foi circuncidado no oitavo dia e consagrado no templo (Lc 2.21)
Seus pais cumpriram as ordenanças da Lei e deram uma oferta considerada pobre: dois pombinhos.


IV. O Ministério de Jesus

a. Curou os enfermos, ensinou o amor de Deus e pregou o Evangelho (Mt 11.2-5)

b. Morreu e ressuscitou, venceu a morte e nos salvou (Jo 10.17,18)
“Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandamento recebi de meu Pai.”

c. É o Alfa e o Ômega, o Todo-Poderoso que buscará sua igreja (Ap 21.5-7)


Maria provavelmente teve outros filhos além de Jesus, dizem historiadores

Evangelhos mencionam quatro irmãos e ao menos duas irmãs de Cristo. Interpretação de que eles seriam só primos prevaleceu no Ocidente.

Reinaldo José Lopes Do G1, em São Paulo (link em 07/12/2009)

A lista "Tiago, José, Judas e Simão" lhe diz alguma coisa? Uma dica: não são nomes de apóstolos. Na verdade, de acordo com o Evangelho de Marcos, estes seriam os irmãos de Jesus, que são citados ao lado de pelo menos duas irmãs de Cristo (cujos nomes não aparecem). Os católicos e ortodoxos normalmente interpretam o trecho como uma referência a primos ou parentes mais distantes do mestre de Nazaré, mas o mais provável é que essa visão seja incorreta. A maior parte dos (poucos) indícios históricos indica que Maria e José realmente tiveram filhos depois do nascimento de Jesus.

É claro que, sem nenhum acesso a registros familiares contemporâneos ou evidências arqueológicas diretas, a conclusão só pode envolver probabilidades, e não certezas. "Se a busca do 'Jesus histórico' já é difícil, a pesquisa dos 'parentes históricos de Jesus' é quase impossível", escreve o padre e historiador americano John P. Meier no primeiro volume de "Um Judeu Marginal", série de livros (ainda não terminada) sobre Jesus como figura histórica.

Meier explica que, ao longo da tradição cristã, teólogos e comentaristas do texto bíblico se dividiram basicamente entre duas posições, batizadas com expressões em latim. A primeira é a chamada "virginitas ante partum" (virgindade antes do parto), segundo o qual Maria permaneceu virgem até o nascimento de Jesus, tendo filhos biológicos com seu marido José mais tarde. A segunda, "virginitas post partum" (virgindade após o parto), postula que Maria não teve outros filhos e até que seu estado de virgem teria sido milagrosamente restaurado após o único parto.

A "virginitas post partum" foi, durante muito tempo, a posição defendida por quase todos os cristãos, diz o historiador -- até pelos protestantes, que hoje não se apegam a esse dogma. "Um fato surpreendente, e que muitos católicos e protestantes hoje em dia desconhecem, é que as grandes figuras da Reforma, como Martinho Lutero e Calvino, defendiam a virgindade perpétua de Maria", escreve ele. Já especialistas católicos modernos, como o alemão Rudolf Pesch, defendem que Maria provavelmente teve outros filhos sem que isso tenha levado a reprimendas diretas do Vaticano.

Jerônimo

Diante das menções claras aos "irmãos e irmãs de Jesus" nos Evangelhos (que inclusive se mostram contrários à pregação dele, chegando mesmo a considerá-lo louco), como a interpretação da "virginitas post partum" prevaleceu?

"Houve três formas de interpretar esses textos", afirma o americano Thomas Sheehan, estudioso do cristianismo primitivo e professor da Universidade Stanford. "Além de considerar essas pessoas como irmãos biológicos de Jesus, sabemos da posição de Epifânio, bispo do século IV para quem os irmãos eram de um casamento anterior de José. Mas a opinião que prevaleceu foi a de Jerônimo, que era um excelente filólogo [especialista no estudo comparativo de idiomas] e viveu na mesma época. Jerônimo dizia que a palavra grega 'adelphos', que nós traduzimos como 'irmão', era só uma versão de um termo aramaico que pode ter um significado mais amplo e que pode querer dizer, por exemplo, primo."

Jerônimo tinha razão num ponto: quando o Antigo Testamento foi traduzido do hebraico para o grego, a palavra "adelphos" realmente foi usada para representar o termo genérico "irmão" (empregado para parentes mais distantes no original). De fato, o hebraico, bem como o aramaico (língua falada pelos judeus do tempo de Jesus na terra de Israel), não tem uma palavra para "primo". O problema é que há um único caso comprovado de que a palavra hebraica "irmão" tenha tido o significado real de "primo". Essa única ocorrência está no Primeiro Livro das Crônicas -- e mesmo assim o contexto deixa claro que as pessoas em questão não são irmãs, mas primas.

No entanto, o caso do Novo Testamento é diferente, argumenta Meier: não se trata de "grego de tradução", mas de textos originalmente escritos em grego, nos quais não havia motivo para usar um termo que poderia gerar confusão. O próprio Paulo, autor de várias cartas do Novo Testamento, chama Tiago, chefe da comunidade cristã de Jerusalém após a morte de Jesus, de "irmão do Senhor", ao escrever para fiéis de origem não-judaica (ou seja, que não sabiam hebraico ou aramaico). De quebra, a Carta aos Colossenses, atribuída a Paulo, usa até o termo grego "anepsios", que quer dizer "primo" de forma precisa.

Reforçando esse argumento, o escritor judeu Flávio Josefo, ao relatar em grego a morte de Tiago, também o chama de "irmão de Jesus". E o contexto dos Evangelhos reforça a impressão de que se tratam de irmãos de sangue, argumenta Meier. Os irmãos e a mãe de Jesus são sempre citados em conjunto. Quando Maria e os parentes de Jesus tentam interromper uma pregação, ele chega a pronunciar a polêmica frase "Qualquer um que fizer a vontade do meu Pai celestial é meu irmão, minha irmã e minha mãe". Para Meier, a frase perderia muito de sua força se o significado real dela se referisse a "meu primo, minha prima e minha mãe".

Para Geza Vermes, professor de estudos judaicos da Universidade de Oxford (Reino Unido), as próprias narrativas sobre o nascimento de Jesus dão apoio a tese de que Maria e José tiveram outros filhos mais tarde. No Evangelho de Mateus, afirma-se que José não "conheceu" (eufemismo para ter relações sexuais com alguém) sua mulher até que Jesus nascesse. Ainda de acordo com Vermes, em seu livro "Natividade", é importante notar o uso do verbo grego "synerchesthai", ou "coabitar", para falar da relação entre José e Maria. O verbo, quando empregado pelos autores do Novo Testamento, implica sempre relações sexuais entre homem e mulher, diz ele.

Pesquisador levanta dúvidas sobre idade de Jesus ao morrer

Fundador do cristianismo pode ter morrido com até 39 anos. Datas do governo de Pilatos e de Herodes ajudam a estimar isso.

Da EFE

O debate histórico sobre o dia no qual Jesus Cristo foi crucificado no monte Gólgota continua cheio de incógnitas e contradições surgidas dentre os documentos históricos, dos evangelhos, da astronomia e da tradição. Faltando uma prova esclarecedora, para chegar a uma conclusão é preciso decifrar um complexo quebra-cabeças de pistas: "Pegar o bisturi da crítica" frente ao conteúdo dos evangelhos e desvendar com um grande "temor reverencial" e "dor de cabeça teológico" o que há de histórico e de propagandístico nele.

Quem explica isso é o professor de Filologia Grega da Universidade Complutense de Madri e especialista em Linguística e Literatura do Cristianismo Primitivo, Antonio Piñero, autor do livro "La verdadera Historia de la Pasión". Com a pesquisa, foram derrubadas alguns conceitos arraigados. O primeiro deles tem a ver com a idade de Jesus no momento em que morreu.

"Historicamente, não se pode dizer que Jesus morreu com 33 anos", explica Ramón Teja Casuso, professor de História Antiga da Universidade da Cantábria. "Cada povo parte de seu feito mais importante para medir o tempo. E Dionísio, o Exíguo, o monge e matemático que estabeleceu no século VI qual era o ano em que Jesus nasceu, estava errado", assegura Teja.

Investigações históricas posteriores demonstraram que Herodes, o Grande, que era rei da Judéia durante o nascimento de Jesus e suposto responsável pela perseguição e massacre das crianças com menos de dois anos, teria morrido, na realidade, no ano 4 a.C., e, por isso, Cristo teria nascido no ano 5 a.C. ou 6 a.C., paradoxalmente. Essa vertente, que não teria por que contradizer o fato de Jesus ter morrido aos 33 anos, entra em choque com a história que diz que Pôncio Pilatos, o prefeito de Judéia, "lavou as mãos" antes de decidir se executaria Cristo ou Barrabás.

Pôncio Pilatos "ocupou este cargo entre 29 e 37 d.C.", afirmou Teja, o que significa que Jesus morreu com entre 34 e 42 anos. De onde vem, então, a ideia de que Cristo morreu aos 33? Os evangelhos nunca afirmam tal coisa, mas Lucas, no capítulo 3, conta que "quando Jesus começou o seu ministério, tinha cerca de 30 anos". Já o Evangelho de João descreve até três Páscoas nas quais Jesus vai a Jerusalém (curiosamente, Marcos, Mateus e Lucas só falam de uma), o que fundamenta a crença popular cristã de que seriam 33 os anos de vida do Messias.

Para se aproximar mais de uma data exata, Antonio Piñero considera que é preciso fazer uma investigação astronômica. "Ele morreu em uma sexta-feira com lua cheia em Páscoa, por isso sabe-se que 15 de Nisã - o primeiro dos 12 meses do calendário judaico -, que é quando se comemora a Páscoa judaica, reunia essas condições" entre os anos citados. "O resultado é que há duas opções: 7 de abril do ano 30, segundo o qual Cristo teria morrido com 36 anos, e 3 de abril de 33, no qual Cristo teria 39", assegura.

Piñero considera mais provável a data de 7 de abril do ano 30 como data de sua morte, e encontra a explicação em Paulo de Tarso, também conhecido como São Paulo, e uma das fontes mais fidedignas da doutrina católica através das Epístolas Paulinas. "A descoberta de uma inscrição demonstra que o prefeito regional que julgou Paulo em Corinto, capital de Acaia, esteve ali nessa cidade entre junho de 51 e junho de 52", segundo o especialista. Isto faz com que, "se o ano de 33 for considerado como o da morte de Cristo, o cálculo seja muito ajustado", explica o professor, levando em conta que Paulo passou, após a morte de Jesus, três anos meditando e, depois, 15 dias em Jerusalém e 14 anos pregando.

Jesus teria morrido, então, em 7 de abril do ano 30? Piñero ainda expõe uma ressalva.

"É minha opinião, mas acho que é mais provável que Jesus tenha sido crucificado na quinta-feira, pela simples razão de que, se foi crucificado às 15h de sexta-feira, teria morrido caída a tarde. Isso, para os judeus é o novo dia, ou seja, sábado (Shabat), dia de descanso", argumenta Piñero. "A crucificação em dia de descanso teria sido uma profanação monumental. É mais possível que não tenha sido crucificado na sexta-feira, mas na quinta-feira. Ou seja, não em 7, mas em 6 de abril do ano 30 d.C.", conclui.