quarta-feira, novembro 26, 2008

OS DESAFIOS DO MISSIONÁRIO CRISTÃO SOB O SIGNIFICADO DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos” (Mt 22.32).


Quem pode imaginar alguém deixando a comodidade de seu lar, os seus rendimentos, e sua parentela para ir ao encontro do desconhecido na esperança de que alguns possam ouvir sua mensagem? Será que em condições normais alguém enfrentaria situações como a possibilidade de morte tanto do missionário quanto de toda sua família; de um choque cultural tremendo e nada fácil de superar; de um ambiente estranho que também deve provocar traumas, além da grande saudade de parentes, amigos, etc. Nada comum, digo de mim mesmo, poderia me convencer de abraçar uma empreitada dessas de peito aberto, sabendo de todas as coisas que estariam em risco. Mas, com base na história e na experiência que vivemos, a certeza na ressurreição de Cristo deve ser suficientemente capaz de retirar qualquer homem de sua acomodação para enfrentamentos inimagináveis. O missionário, nesse caso, não seria somente aquele indivíduo que deixaria seu país, p. ex., mas, todo aquele que se propõe a “ir e pregar o Evangelho”, inclusive em seu próprio bairro ou condomínio.


O primeiro enfrentamento que vejo na figura do cristão missionário, é o de inconformidade com o mundo e um desejo incontrolável de mudá-lo com a mensagem transformadora do Evangelho. Somente a Boa-Nova pode impedir a degenerescência de nossa sociedade, afinal, somos chamados por Cristo de “sal da terra” (Mt 5.13) porque o mesmo tem propriedades conservativas, que não permitem a degradação dos alimentos. Não é caso de “pegarmos em armas” para convencer todos os indivíduos contrários ao nosso pensamento de agregarem-se à nossa denominação, mas, de apresentarmos uma situação de novas possibilidades escatológicas, de um mundo novo e de uma nova dimensão das relações entre as pessoas, de uma satisfação gratuita e plena em Jesus Cristo.


Os profetas são excelentes exemplos de pessoas que desejavam o benefício de todos, apesar do pesado teor de suas denúncias, não eram expressas por ódio ou desejo de vingança, mas, para que houvesse arrependimento e conversão da parte daqueles que agiam mal diante do Senhor. Caso isso acontecesse, toda a nação se privilegiaria com as maravilhosas bênçãos do Pai. Nesse caso, não podemos nos esquecer da exortação do apóstolo Paulo: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).


O segundo enfrentamento que vejo na figura do cristão missionário é o de ser um pacificador e conciliador nesse mundo materialista e violento em que vivemos hoje. Nos dois maiores mandamentos que Cristo enuncia aos fariseus, encontramos o que penso ser o que dá sentido a toda obra de Salvação: o amor; primeiro a Deus, depois ao próximo. Fico imaginando Jesus agindo como nós: “Se vocês querem apedrejar a adúltera, problema de vocês. Não me envolvam em suas questões”. Mas, graças a Deus, diferentemente disso, Jesus demonstrou fortemente seu amor ao morrer por nós “quando ainda éramos pecadores” (Rm 5.8). Tal exemplo deveria nos incentivar a pregarmos o Evangelho sem fazermos acepção de pessoas, sem julgarmos quem pode ou não ser transformado – como se isso dependesse de nós –, num ato de reconhecimento da nossa própria falta de mérito para tal coisa.


Somente após a ressurreição de Cristo podemos sonhar com a realidade do emocionado apelo do apóstolo Paulo aos efésios: “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, 2 com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, 3 procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz: 4 há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; 5 um só Senhor, uma só fé, um só batismo; 6 um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos. 7 Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo” (Ef 4.1-7). Quão bom e quão suave seria o mundo se todos conhecessem o “bom motivo” de vivermos em união!


O terceiro enfrentamento para o cristão missionário é a de apresentar uma mensagem integral, não dualista, muito bem expressa por Moltmann. Não de uma escatologia escapista, que deseja viver todas as “maravilhas” de Deus enquanto que os ímpios, os desobedientes, sejam lançados no lago de fogo e enxofre, mas, de um desejo de já viver o que já foi promovido pela ressurreição de Cristo. Como disse o historiador eclesiástico González: “[Deve-se] recuperar a centralidade da escatologia, mostrando que ela inclui tanto aquilo pelo que a igreja espera quanto a própria esperança pela qual ela vive”. Assim, a fé cristã vive da ressurreição de Cristo e se estende em direção às promessas do retorno universal e glorioso do Rei dos reis. Nesse aspecto, enfim, nós não somos só intérpretes do futuro, mas já somos os colaboradores do futuro, cuja força, tanto na esperança como na realização, é Cristo e sua ressurreição. Por isso torna-se possível caminharmos todos em direção ao Reino de Deus.


O quarto enfrentamento para o cristão missionário deve ser o de viver e ensinar uma missão comprometida e comprometedora. Sendo capaz de vencer o desafio de viver de tal maneira, em santidade e justiça, que nossa própria existência empurre a história para sua meta. Vivendo um cristianismo prático que preserve a vida, e tudo que lhe é necessário; que preserve a paz entre os indivíduos, numa comunhão universal; que seja verdadeiramente libertador e não opressor, como vemos na institucionalização da fé; onde todos conheçam e exerçam seus papéis em benefício da coletividade e não somente de si mesmo.


Finalmente, o quinto enfrentamento para o cristão missionário deve ser o de inspirar uma missão em esperança, prazerosa, amorosa e vigilante. Tal batalha pode configurar-se a maior dentre as demais, manter firme a esperança nos demais pelo testemunho de uma firme convicção no poder transformador do Evangelho, possibilitado pela ressurreição de Cristo. Não com um discurso ameaçador e amedrontador, mas, de esperança, amor e comunhão.


Lembro-me de uma aula no seminário, quando o professor explicava sobre “como conseguir que sua esposa seja submissa”. A receita era bem simples: “quanto mais a amo, mais ela retribui esse amor, mais ela deseja estar ao meu lado e caminhar comigo”. Se formos competentes em nos lembrar o que levou Cristo a morrer por nós, mesmo que sendo capaz de ressuscitar depois, podemos estar certos da eficácia da mensagem do Evangelho à todos aqueles que estão “cansados e sobrecarregados” pelas ilusões do mundo. Por isso, a mensagem pregada pela Igreja deve ser, como afirmamos no quarto desafio do cristão missionário, comprometida e comprometedora, pois, como afirma Sancho Pança: “muito bem prega quem vive”!

sábado, novembro 22, 2008

CRISTO, NOSSA RESSURREIÇÃO, NOSSA ESPERANÇA!

“20 Mas, agora, Cristo ressuscitou dos mortos e foi feito as primícias dos que dormem [...]. 58 Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor” (I Co 15.20,58).


A ressurreição de Cristo é o fato fundante e, ao mesmo tempo, consumador da fé e da esperança cristã. Por ser as “primícias dos que dormem” desde “antes da fundação do mundo” (Ap 13.8), o Cristo ressurreto antecipou a vitória sobre a morte de todos aqueles que crêem em seu nome. Tal fato é a âncora firme de nossa esperança, significando que a esperança cristã tem uma sólida base histórica. Por isso, Paulo ensina confiadamente que a esperança cristã não traz confusão (Rm 5.5), uma vez que, em Cristo, Deus cumpre a promessa de redenção de seu povo, fortificando a fé de seus filhos sobre uma realidade não só prometida, mas, concretizada.


A esperança cristã, portanto, é essencial à fé. Pois, só pode esperar quem crê e só se pode crer em algo que se possa esperar. Se Cristo não tivesse ressuscitado, não haveria motivo para a esperança e nem para a existência da fé cristã, como afirma o apóstolo Paulo:


“12 Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? 13 E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. 14 E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (I Co 15.12-14).


Mas, como Cristo ressuscitou nossa esperança não é vã e a morte não pode condenar nossa fé. Ao contrário, nossa fé aniquila a morte e esta se torna o berço de nossa ressurreição eterna. A destinação do homem e do universo para um fim infeliz e irremediável deixa de ser uma realidade em Cristo, e pode suprir o homem de um novo sentido para sua vida. Em vez de olhar para o futuro como a consumação de sua história como ser, o homem pode expectar o ressurgimento de uma nova vida, de um novo céu e uma nova terra. E com o mesmo entusiasmo do apóstolo Paulo pode afirmar:


“Tragada foi a morte na vitória. 55 Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?” (I Co 15.54b.55).


Cristo ressuscitou e com ele também ressuscitaremos. Então, conforme Juan B. Stam, depois da ressurreição de Cristo, impõe-se para os cristãos a lógica da esperança contra todo desespero. À luz da ressurreição tudo é possível. Inclusive quando não há base visível e nem calculável para se continuar esperando, a Igreja deve continuar marchando triunfante conforme o exemplo de Abraão:


“O qual, em esperança, creu contra a esperança que seria feito pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência” (Rm 4.18).


E assim como creu Abraão, assim foi e está sendo. Nós, cristãos, que sabemos e cremos que Cristo ressuscitou seguiremos esperando contra ventos e tempestades a nossa ressurreição, nossa vitória sobre a morte.

terça-feira, novembro 18, 2008

FOI ENCONTRADO O “MAIS ANTIGO MANUSCRITO HEBREU”

30 October 2008 - BBC News


Cinco linhas de um manuscrito em um caco velho de cerâmica pode ser o mais antigo exemplo de escrita hebraica já descoberto em Israel, diz que um arqueólogo.

O caco foi encontrado por um escavador adolescente voluntário, durante cerca de 20 km a sudoeste de Jerusalém.

Especialistas da Universidade Hebraica afirmaram que o achado pode ter sido escrito 3000 anos atrás - cerca de 1000 anos mais cedo do que os Manuscritos do Mar Morto. Outros cientistas, porém, advertiram que era necessário um estudo mais aprofundado para compreendê-lo e confirmar tal suposição.

Investigações preliminares, desde que o caco foi encontrado em julho, decifraram algumas palavras, inclusive, juiz, escravo e rei. Os caracteres são escritos em proto-Cananita, um precursor do alfabeto hebraico.


Rei David


O arqueólogo chefe Yosef Garfinkel o identificou como hebraico, por causa de um verbo de três letras que significa "fazer". O que ele afirma ser utilizado apenas em hebraico. "Isso nos leva a crer que isto é hebraico, e que esta é a mais antiga inscrição em hebraico que tenha sido encontrada", disse ele.

O caco e outros artefatos foram encontrados no site do Khirbet Qeiyafa, com vista para o Vale de Elah onde a Bíblia diz que David lutou com o gigante filisteu Golias. Garfinkel disse que o achado poderia lançar signficativa luz sobre o período de reinado do Rei David. "A cronologia e a geografia de Khirbet Qeiyafa cria um único ponto de encontro entre a mitologia, história, arqueologia e a historiografia do Rei David."

Apesar disso, seus colegas na Universidade Hebraica disseram que os israelitas não foram os únicos a utilizar caracteres proto-Cananitas, portanto, fica difícil provar que era hebraico e não algo relacionado com uma língua falada na região naquela época.

O arqueólogo da Universidade Hebraica Amihai Mazar disse que a inscrição era "muito importante", pois é o mais longo texto proto-Cananita já encontrado. "A diferença entre os manuscritos e as línguas, entre si, nesse período, permanece pouco clara", disse ele.

segunda-feira, novembro 03, 2008

DONS ESPIRITUAIS X ESPIRITUALIDADE

Uma breve análise devocional em I Coríntios


* Acredito que você precisará instalar a fonte SGREEK (basta procurar na web, é gratuita).

I Co 1.1-8

“1 Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes, 2 à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: 3 graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. 4 Sempre dou graças a meu Deus a vosso respeito, a propósito da sua graça, que vos foi dada em Cristo Jesus; 5 porque, em tudo, fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento; 6 assim como o testemunho de Cristo tem sido confirmado em vós, 7 de maneira que não vos falte nenhum dom, aguardando vós a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo, 8 o qual também vos confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo”.

I Co 3.1-3

“1 Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo. 2 Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais. 3 Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?”

Paulo em sua saudação e ação de graças, afirma que os Coríntios foram muito abençoados por Deus: “em toda a palavra e em todo o conhecimento... de maneira que não vos falte nenhum dom” (vv. 5,7). Era uma igreja de homens inteligentes, conhecedores da palavra de Deus e dotados de todos os dons espirituais. Porém, no terceiro capítulo desta carta, Paulo afirma duramente que apesar de seu conhecimento, eloqüência e dons espirituais, os coríntios não eram crentes espirituais, mas agiam como homens carnais. Havia na igreja de Corinto uma série de problemas: (1) Facções em favor de homens (1.12); (2) inveja e contenda (3.3); orgulho (3.21; 4,7); imoralidade (5.1); ações na justiça dos homens (6.1-8); freqüência a festas idólatras (caps. 8-10); exercício errado dos dons espirituais (caps. 12-14); e distorção da Ceia do Senhor (11.20-34). Tal situação demonstra uma total ausência de amor, o que nos faz questionar se alguém pode ser espiritual sem cumprir o segundo maior mandamento ensinado por Cristo (Mt 22.39).

Há ainda algo interessante a se notar nos textos que lemos. Na língua portuguesa a palavra espiritual é uma só, tanto para expressar a propriedade dos dons quanto para expressar a condição de um homem maduro na fé. Entretanto, no grego a palavra que se refere a dom espiritual é carismati (charísmati, de charismata – dom carismático), e a palavra que se refere ao crente espiritual é pneumatikoij (pneimátikis), ou seja, duas palavras distintas para duas coisas distintas. Uma coisa é o crente possuir dons espirituais, outra coisa é o crente ser espiritual, movido e amadurecido em sua experiência diária com o Espírito Santo.

Para entender melhor isso, vejamos quais os ensinamentos de Paulo nos capítulos 12 ao 14 de I Coríntios, acerca dos dons espirituais. A primeira frase de grande impacto é: “A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (12.7), necessariamente o dom espiritual visa um fim proveitoso. No capítulo 14, Paulo ensina que o dom de línguas, por exemplo, só edifica quem o possui, ele afirma que seria mais interessante profetizar (pregar o evangelho), ou falar quatro palavras que a igreja entendesse do que mil em línguas, porque ninguém o entenderia e não seria edificado. Para que os dons sejam proveitosos é importante que se manifestem diferenciadamente. Ele ensina no capítulo 12 que a igreja é o Corpo de Cristo e que como corpo não tem um só membro, mas vários, e cada membro tem uma função (I Co 12.12-31), tudo isso refere-se aos dons espirituais na igreja. Por exemplo, um mestre precisa de discípulos para que seu dom seja útil; o evangelista é quem traz novos discípulos para o mestre. Cada qual em sua função. Assim, a Igreja, que é o corpo vivo de Cristo, deve usar seus dons para seu funcionamento prático da comunhão, testemunho e serviços cristãos.

Antes de continuar sua explanação sobre os dons espirituais, Paulo interrompe abruptamente seu discurso no capítulo doze e inicia outro assunto no capítulo 13. Antes de explicar quais são “os melhores dons”, conforme ele faz no capítulo 14, Paulo precisa indicar qual a condição essencial para o exercício apropriado de qualquer dom – o amor.

1 Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. 2 Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. 3 E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará (I Co 13.1-3).

O texto fala por si só, Paulo estava tremendamente certo ao afirmar que toda a escritura é inspirada pelo Espírito Santo. Só o amor de Deus derramado em nossos corações, é que nos dá a capacidade de utilizarmos nossos dons espirituais para a glória de Deus e não para a nossa própria. Paulo deixa muito claro que a plenitude do Espírito Santo não é a prática dos seus dons (os coríntios tinham todos), mas a produção de seus frutos fundamentados pelo amor.

Espiritualidade

“Mas o fruto do Espírito (tou/ pneu,mato,j) é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (Gl 5.22-25).

Uma vez que a boa semente do Evangelho tenha caído em terreno fértil, nossa natureza fora transformada (II Co 5.17), e não andamos mais segundo as paixões da nossa carne, deixamos de viver para satisfação de nossos desejos e passamos a viver no Espírito de Deus. Inicia-se um processo contínuo que deve nos levar à perfeição (Ef 4.13). Os frutos do Espírito Santo são os sinais ideais de nossa espiritualidade. Um fruto precisa ter sido primeiramente uma semente, depois uma árvore (Sl 1.3) e no devido tempo se evidenciará. Para que isso aconteça devemos dar condições para o crescimento desta semente, precisamos de: (1) Água (Jo 7.37-39); (2) Adubo (abnegação, obediência e resignação – Lc 9.23) e (3) Luz (amor, fé e arrependimento – Jo 8.12; 15.9; Rm 1.17 e Lc 5.32).

No Sermão do Monte podemos ver o retrato de um crente espiritual nas bem-aventuranças de Cristo (Mt 5.1-11).

Aqui o crente espiritual é bem-aventurado porque:

- é humilde (pobre) de espírito (v.3) – Ele sabe que depende totalmente de Deus e em si mesmo é incapaz de achegar-se a Deus.

- porque chora (v.4) – Porque perderam a inocência e viram-se como pecadores e pobres de espírito. Sua vergonha é transformada em honra pela misericórdia de Deus.

- porque é manso (v.5) – Em sua humildade de espírito e reconhecimento de seu passado de pecado, torna-se gentil e tem auto-controle.

- porque tem fome e sede de justiça (v.6) – De justiça espiritual que na Bíblia tem três aspectos: o legal, o moral e o social. Esse crente não tem amor por bens materiais e se sujeitam à justiça de Deus e não dos homens (Rm 9.30-33).

- porque são misericordiosos (v.7) – Por conhecerem suas próprias dificuldades, são pessoas que se compadecem da necessidade de outros.

- porque são limpos de coração (v.8) – Foi purificado de toda imundície moral (Mt 23.25-28).

- porque são pacificadores (v.9) – Fomos chamados para a reconciliação, para pacificar, “buscar a paz”, “seguir a paz com todos” e, até onde depender de nós, “ter paz com todos os homens” (I Co 7.15; I Pe 3.11; Hb 12.14; Rm 12.18).

- porque são perseguidos por causa da justiça (v.10) – A perseguição por parte dos ímpios é uma certificação de nossa vida em Cristo, “pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós (v.12b)”, se somos perseguidos é por causa de nossa lealdade a Cristo (v.11).

Como Paulo ensina no segundo verso do terceiro capítulo, o alimento dos que são crianças na fé é o leite. O cristão espiritual não é mais uma criança, ao contrário, é um varão perfeito que chegou a estatura de Cristo, um homem amadurecido na vida cristã tanto pelo conhecimento da palavra como em sua vivência. Um indivíduo que não só aprendeu a letra das Sagradas Escrituras, mas que a experimentou no seu dia-a-dia seguindo suas orientações, desejando agradar a Deus e dando ouvidos ao seu Espírito. Para este homem o mundo não interessa, nem suas “deliciosas” ofertas, o que lhe interessa é aniquilar seus desejos e colocar-se cativo, todos os dias, à vontade do Senhor.

Podemos imaginar o quanto muitos pensam ser difícil viver para Cristo, podemos até concordar nesse ponto se excluirmos a ação do Espírito Santo em nossas vidas, mas, com a ação do Consolador somos capazes de crer que nós podemos seguir plenamente os ensinamentos da Bíblia. Assim declara o apóstolo João: Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos” (I Jo 5.3). Sabemos que para esta jornada não estamos sozinhos e que podemos beber sempre da “fonte de água viva”, assim “podemos todas as coisas naquele que nos fortalece”.