segunda-feira, outubro 22, 2007

O VOTO DE JEFTÉ

Dentre tantas dificuldades que temos na leitura da Bíblia, estão textos que parecem contradizer seus principais princípios. Um destes textos é o que trata do voto de Jefté, um dos juízes de Israel que faz um infeliz voto a Deus para que este lhe dê vitória sobre seus inimigos, opressores de seu povo. Eis o texto: E Jefté fez um voto a IAHWEH: ‘Se entregares os amonitas nas minhas mãos, aquele que sair primeiro da porta da minha casa para vir ao meu encontro quando eu voltar são e salvo do combate contra os amonitas, esse pertencerá a IAHWEH, e eu o oferecerei em holocausto’” (Juízes 11.30-31 – Bíblia de Jerusalém).

Para a infelicidade de Jefté a primeira pessoa que saiu a seu encontro foi sua única filha, festejando com danças a vitória de seu pai. Transtornado, Jefté rasga as suas vestes e angustiou-se profundamente explicando à sua filha o conteúdo de seu voto dizendo: “não posso recuar [no voto]” (BJ - v. 35).

Há uma enorme discussão, portanto, em torno deste voto. Se Jefté era um homem a serviço de Deus, sob a orientação de sua Lei, jamais poderia votar o sacrifício de um ser humano (Lv 18.21; 20.2-5; Dt 12.31; 18.10). Mas, não se deve atenuar o que está escrito com base em pré-concepções, ao contrário deve-se haver a maior clareza possível no trato do assunto para obtermos o ensinamento verdadeiro que o texto contém. Veja o texto na língua original:


:dyb Nwme ynb-ta Ntt Nwtn-Ma rmayw hwhyl rdn xtpy rdyw 30

ytarql ytyb ytldm auy rsa auwyh hyhw 31

:hlwe whtylehw hwhyl hyhw Nwme ynb Mwlsb ybwsb

Tradução literal:

“E votou Jefté um voto a YAHWEH dizendo: “Se me der dado os filhos de Amon voto: e será quem quer que seja que saia da porta de minha casa, ao meu encontro, quando voltar salvo do combate com os filhos de Amon será para YAHWEH eu oferecerei em holocausto”.

Versões conhecidas:

ARA – “30 Fez Jefté um voto ao SENHOR e disse: Se, com efeito, me entregares os filhos de Amom nas minhas mãos, 31 quem primeiro da porta da minha casa me sair ao encontro, voltando eu vitorioso dos filhos de Amom, esse será do SENHOR, e eu o oferecerei em holocausto”.

ARC – “30 E Jefté fez um voto ao SENHOR e disse: Se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão, 31 aquilo que, saindo da porta de minha casa, me sair ao encontro, voltando eu dos filhos de Amom em paz, isso será do SENHOR, e o oferecerei em holocausto”.

NVI – “ 30 E Jefté fez este voto ao Senhor: ‘Se entregares os amonitas nas minhas mãos, 31 aquele que estiver saindo da porta da minha casa ao meu encontro, quando eu retornar da vitória sobre os amonitas, será do Senhor, e eu o oferecerei em holocausto’”.

TEB – “30 Jefté fez um voto ao Senhor e disse: ‘Se verdadeiramente me entregas os filhos de Amon, 31 quem quer que saia das portas de minha casa ao meu encontro, quando eu voltar são e salvo do meio dos filhos de Amon, esse pertencerá ao Senhor e eu o oferecerei em holocausto’”.

BJ – “E Jefté fez um voto a IAHWEH: ‘Se entregares os amonitas nas minhas mãos, aquele que sair primeiro da porta da minha casa para vir ao meu encontro quando eu voltar são e salvo do combate contra os amonitas, esse pertencerá a IAHWEH, e eu o oferecerei em holocausto’”.

Nos exemplos acima somente a ARC traduziu auwyh hyhw como aquilo que”. As demais traduções, mais honestas a meu ver, fizeram a tradução correta tratando o objeto da frase como alguém e não como algo. O texto não se refere a “alguma coisa”, criando a possibilidade de que Jefté estivesse falando de um animal qualquer ou de “outra criatura” como afirmam alguns estudiosos. Pelo que está escrito fica muito claro que Jefté estava realmente falando de um sacrifício humano, sua tristeza deu-se pelo fato desta pessoa ser sua única filha. Enfim, o verso 39 diz: “Ao cabo de dois meses, voltou para junto de seu pai e ele cumpriu sobre ela o voto que pronunciara”. A palavra hlwe ('olah) muitas vezes é traduzida como "um holocausto" ou “oferta queimada”. Quando o ofertante faz um 'olah, o sacrifício foi completamente queimado.

Uma versão contrária ao que estou dizendo é esta: “Jefté não sacrificou sua filha ao Senhor porque foi um homem piedoso, revestido pelo Espírito do Deus (Juizes 11:29). Desde que o Espírito Santo esteve sobre Jefté, não lhe seria permitido manchar suas mãos no sangue da sua própria criança; e especialmente embaixo da pretensão de oferecer um sacrifício agradável a Deus que é o Pai da humanidade, e a Fonte de amor, clemência, e compaixão”. A sua conclusão, então, é que Jefté não sacrificou sua filha a Deus, mas a consagrou para servir ao Senhor em um estado da virgindade perpétua. Esta visão é baseada nas palavras “ela nunca conheceu um homem” (v. 39). Então ela foi dedicada ou consagrada a Deus tendo que viver celibatária até a morte. É claro que a virgindade da filha de Jefté também traz grande peso ao entendimento do texto, mas, somente no que tange informar o quão infeliz foi aquela jovem morrer sem poder ter filhos. Isso era uma grande desgraça para as mulheres naquela época e lugar.

Não podemos amenizar o dilema moral em que Jefté se meteu alterando a tradução do texto conforme nos convém. Também não podemos transcender o conteúdo do texto, incluindo ali nossa “impressão”. É óbvio que isso dificultará uma explicação do fato de que um homem que é celebrado como “um herói da fé” em hebreus 11:32, fez um sacrifício humano a Deus. Sejamos honestos, o texto afirma que ele sacrificaria mesmo uma pessoa. Lembremos-nos também que a moralidade não era o forte de Jefté:

Juízes 11 - ARC

1 Era, então, Jefté, o gileadita, valente e valoroso, porém filho de uma prostituta; mas Gileade gerara a Jefté. 2 Também a mulher de Gileade lhe deu filhos, e, sendo os filhos desta mulher já grandes, repeliram a Jefté e lhe disseram: Não herdarás em casa de nosso pai, porque és filho de outra mulher. 3 Então, Jefté fugiu de diante de seus irmãos e habitou na terra de Tobe; e homens levianos se ajuntaram com Jefté e saíam com ele”.

Jefté votou um sacrifício humano porque isso era comum em seu tempo, só que para pagãos (Moloque é um exemplo disso). Em sua ignorância completa da Lei, sendo ele marginalizado em sua terra, Jefté optou em oferecer a Deus o que ele aprendera que lhe seria mui caro – certamente ignorando o fato de que essa oferta poderia ser sua filha (v 35).

Vejo que, no final, o foco desta narrativa não está sobre o sacrifício da filha de Jefté, mas, da irrevogabilidade do voto feito a Deus. Uma vez feito o voto, não era possível tornar atrás. Para a sua época o texto traz a lume a responsabilidade de um povo que foi feito representante de Deus na terra, porta-voz de sua majestade e demais atributos divinos. Como a igreja hoje é plenipotenciária da mesma mensagem e conduta: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna.” (Mateus 5:37).

Talvez, com uma conclusão tão miúda, se possa achar este pensamento um tanto simplista, portanto, quero lhe instigar a analisar o que digo a respeito do voto na Lei, na época de Jefté. Certamente será uma agradável pesquisa.

Sugiro que toda discussão que possa surgir em sobre esse assunto, gire em torno do que está escrito e não do que se acha ou do que se prefira. Possivelmente vou falar a respeito de Jefté como herói da fé, então, há muito em que devamos investir nossas mais fervorosas orações.

quinta-feira, outubro 11, 2007

PESQUISADORA HOLANDESA RECLAMA O DIREITO DE CONFIRMAR O SELO DE JEZABEL

Por Cnaan Liphshiz

Por uns 40 anos, um dos mais destacados sinetes de opala expostos no Museu de Israel, permaneceu sem um contexto histórico acurado. Duas semanas atrás, o pesquisadora holandesa Marjo Korpel identificou o artigo como o selo official da rainha Jezabel, um das mulheres mais poderosas e perversas da Bíblia.

Arqueologistas israelenses suspeitavam que Jezabel fosse sua proprietária desde sua documentação em 1964. “Teria ele pertencido a esposa fenícia de Acabe?” escreveu o anteriormente o arqueologista Nahman Avigad pioneiro da descoberta do selo, o qual ele obteve por meio do mercado de antiguidades. “Embora se ajuste a rainha, vinda do mesmo período e com um nome raro que não foi documentado em lugar algum além da Bíblia Hebraica, nós não podemos saber com certeza”.

A afirmação cautelosa de Avigad originou-se do fato de que o selo não veio de uma escavação oficialmente aprovada. Pensa-se que o objeto veio da Samaria, no nono século A.E.C. (antes da era cristã), mas não havia como saber com certeza onde ele foi encontrado. E esta tem sido a barreira científica que Korpel, — um teólogo e Ugaritologista da Universidade de Utrecht e um ministro Protestante — pretendem conquistar.

Em seu paper, que tem planos de aparecer na Revista de Arqueologia Bíblica , altamente respeitada, Korpel enumera as observações que pertencem ao simbolismo do selo: tamanho excepcional, forma e período de tempo. Por meio da eliminação, ela mostra Jezabel como a única proprietária plausível. Ele também explica como duas cartas ausentes do selo apontam para o musaranho fenício.

Como um ministro, nunca falo de coincidências, mas a minha pesquisa aconteceu por acaso," disse Korpel a Haaretz (jornal eletrônico a quem pertence este artigo) na semana passada. "Pediram-me entregar um paper sobre a incorporação feminina. Não sou um feminista, mas eu tinha escrito sobre a imagem do selo”.

Korpel diz que ela (a que solicitou o paper?) provavelmente viu o selo anos antes sua visita ao Museu de Israel, mas somente muito tempo depois isso despertou seu interesse. “As letras perdidas no topo me intrigou. Eu usei a reconstrução de textos antigos quebrados de uma pesquisa mais recente”.

Para ouvir da pesquisa de Korpel, o doutor Hagai Misgav, da Universidade Hebraica, disse que ele acreditou que a Autoridade de Antiguidades de Israel e o Museu de Israel têm na sua posse muito mais artigos que transportam pistas históricas despercebidas. "Nem todos os artefatos foram completamente examinados," ele disse. "Há muitas descobertas que esperam para que isso seja feito." Misgav acrescentou que ele teria de estudar o trabalho de Korpel mais completamente para comentar algo mais sobre ele.

Espera-se que o selo seja exposto no Museu de Israel, em Jerusalém, quando ele reabrir após o trabalho de renovação, que atualmente está em andamento, seja terminado.

Depois da sua descoberta, Korpel, 48, teve de lidar com um ataque violento de meios de comunicação. A história do selo foi por enquanto apresentada em jornais nacionais, locais e em revistas. "O telefone está desligando o gancho!" Korpel diz. "O jornal local até realizou um quadro sobre mim. Senti-me um bocado desajeitado indo à loja de esquina durante algum tempo."

Como um pesquisadora, Korpel afirma que a sua pesquisa serve somente para comprovar que o selo pertenceu a Jezebel. "A verdade é que não há nenhum modo de saber com certeza de onde o selo vem. Teoricamente, ele pode vir de qualquer lugar. Mas dizendo como uma pessoa privada, estou na minha mente 99 por cento seguro que ele pertenceu a Jezebel," ela diz depois de um pouco de lisonja.

Contudo, Korpel não é arqueóloga, e a sua pesquisa de achados arqueológicos é essencialmente textual. "Pensei nisto. Mas muitos campos de pesquisa vêem descobertas importantes por pesquisadores de campos relacionados," ela diz. "Admito que a minha solução do selo de Jezebel é bastante simples. Mas então, assim foi a invenção do clipe de papel."

Miriam Feinberg Vamosh contribuiu com este artigo.

Fonte Haaretz.com

http://www.haaretz.com/hasen/pages/ShArt.jhtml?itemNo=911612